CURSO DE DOUTORADO EM TEOLOGIA SISTEMÁTICA
DISCIPLINA - ECLESIOLGIA
A DOUTRINA DA IGREJA
A DOUTRINA DA IGREJA
A IGREJA
I. Nomes Bíblicos da Igreja e a
Doutrina da Igreja na História.
A. Nomes
Bíblicos da Igreja.
B. A
Doutrina da Igreja na História.
II. Natureza da Igreja
A. A
Essência da Igreja.
B. O
caráter Multiforme da Igreja.
C. Várias
Definições da Igreja
D. A igreja
e o Reino de Deus.
E. A Igreja
e as Diferentes Dispensações
F. Os
Atributos da Igreja.
G. As
Marcas da Igreja
III. O Governo da Igreja
A.
Diferentes Teorias a Respeito do Governo da Igreja.
B. Os
Princípios Fundamentais do Sistema Reformado ou Presbiteriano.
C. Os
Oficiais da Igreja.
D. As
Assembléias Eclesiásticas.
IV. O Poder da Igreja.
A. A Fonte
do Poder da Igreja.
B. A
Natureza Deste Poder.
C.
Diferentes Espécies de Poder Eclesiástico.
A DOUTRINA DA IGREJA
A IGREJA
A doutrina da
aplicação dos méritos de Cristo leva naturalmente à doutrina da igreja, pois
esta consiste dos que são partícipes de Cristo e das bênçãos da salvação que
nele há. A concepção reformada (calvinista) é que Cristo, pela operação do
Espírito Santo, reúne homens Consigo, dota-os da verdadeira fé e, assim,
constitui a igreja como Seu corpo, a communio fidelium ou sanctorum
(comunhão dos fiéis ou dos santos). Todavia, na Igreja Católica Romana o estudo
da igreja tem precedência sobre tudo mais, antecedendo até ao estudo da
doutrina de Deus e da revelação divina. O que se diz é que a igreja foi o
instrumento da produção da produção da Bíblia e, portanto, tem precedência
sobre ela; além disso, ela é despenseira de todas as graças sobrenaturais. Não
é Cristo que nos leva à igreja, mas a igreja que nos leva a Cristo. Toda a
ênfase recai, não sobre a igreja invisível como communio fidelium, mas
sobre a igreja visível como mater fidelium (mãe dos fiéis). A Reforma
rompeu com este conceito católico romano da igreja e centralizou a atenção na
igreja como organismo espiritual, como outrora fora feito. Ela deu ênfase ao
fato de que não existe igreja fora da obra de Cristo e das operações
renovadoras do Espírito Santo; e ao fato de que, portanto, o estudo destas
precede logicamente à consideração da doutrina da igreja.
Parece deveras
peculiar que praticamente todos os dogmáticos presbiterianos exponenciais do
nosso país,* como os dois Hodge,
H.B.Smith, Shedd e Dabney não têm um lócus (uma parte) separado para o estudo
da igreja em suas dogmáticas e, de fato, dedicam muito pouca atenção a ela.
Somente as obras de Thornwell e Breckenridge constituem exceções à regra. Isto
poderia dar a impressão de que, na opinião deles, a doutrina da igreja não deve
ter lugar na dogmática. Mas isto é sumamente improvável, desde que nenhum deles
levanta uma única objeção sequer à sua inclusão. Ademais, Turretino e os seus
antecessores escoceses, sobre cujos alicerces aqueles teólogos edificam, deram
muita atenção ao estudo da igreja. Diz Walker: “Não há talvez nenhum país no mundo
em que todas as espécies de questões sobre a igreja foram examinadas como em
nosso país”.[1] E, finalmente,
o doutor A. A Hodge nos informa que o seu pai deu lições a suas diversas
classes sobre temas eclesiológicos, cobriu praticamente o campo todo, e tencionava
completar a sua Teologia Sistemática com a publicação de um quarto volume,
sobre a igreja; mas foi impedido pelas enfermidades que lhe sobrevieram em sua
avançada idade.[2] Diz Dabney que
omitiu a doutrina da igreja porque esta recebia competente tratamento noutro
departamento do Seminário* em que
ele trabalhava.[3] Shedd, ao dar o
seu plano, afirma que a igreja é focalizada em conexão com os meios de graça.[4]
Contudo, ele dedica bem pouca atenção aos meios de graça e não ventila a
doutrina da igreja. E o editor da obra de Smith, System of Christian
Theology (Sistema de Teologia Cristã), incorporou nessa obra os conceitos
do autor sobre a igreja, expressos noutros escritos.[5]
I. Nomes Bíblicos da Igreja e a Doutrina da Igreja na História.
A. Nomes Bíblicos da Igreja.
1. NO VELHO
TESTAMENTO. O Velho Testamento emprega duas palavras para designar a igreja, a
saber, qahal (ou Kahal), derivada de uma raiz qal (ou kal)
obsoleta, significando “chamar”; e ‘edhah, de ya’adh, “indicar”
ou “encontrar-se ou reunir-se num lugar indicado”. Às vezes estas duas palavras
são usadas indiscriminadamente, mas, de início, não eram estritamente
sinônimas. ‘Edhah é propriamente uma reunião resultante da combinação,
e, quando aplicada a Israel, denota a sociedade propriamente dita, formada
pelos filhos de Israel ou por seus chefes representativos, reunidos ou não. Por
outro lado, Qahal denota propriamente a reunião de fato do povo.
Conseqüentemente, vemos ocasionalmente a expressão qehal ‘edhah, isto é,
“assembléia da congregação”, Ex 12.6; Nm 14.5; Jr 26.17. Vê-se que, às vezes, a
reunião realizada era uma reunião de representantes do povo, Dt 4.10; 18.16,
comp. 5.22, 23; 1 Rs 8.1, 2, 3, 5; 2 Cr 5.2-6. ‘Edhah é, de longe, a
palavra mais comum em Êxodo, Levítico, Números e Josué, mas está inteiramente
ausente de Deuteronômio e raramente se vê nos livros posteriores. Qahal
aparece numerosamente em Crônicas, Esdras e Neemias. Synagoge é a versão
usual, quase universal, de ‘edhah na Septuaginta, e é também a versão
usual de qahal no Pentateuco. Nos últimos livros da Bíblia [Velho
Testamento], porém qahal é geralmente traduzida por ekklesia.
Schuerer afirma que o judaísmo mais recente já indicava a distinção entre synagoge
como designativo da congregação de Israel como uma realidade empírica, e ekklesia
como o nome da mesma congregação considerada idealmente. Ele é seguido nisto
pelo doutor Bavinck. Cremer-Koegel, porém, faz objeção a isto. Diz Hort que
após o cativeiro a palavra qahal parece ter combinado as nuanças de
sentido de qahal e ‘edhah; e que, conseqüentemente, “ekklesia,
como o principal representante grego de qahal, naturalmente significaria
para os judeus que falavam grego, tanto a congregação de Israel, como uma
assembléia da congregação”.[6]
2. NO NOVO
TESTAMENTO. O Novo Testamento também tem duas palavras, derivadas da
Septuaginta, quais sejam, ekklesia, de ek e kaleo,
“chamar”, “chamar para fora”, “convocar”, e synagoge, de syn e ago,
significando “reunir-se” ou “reunir”. Synagoge é empregada
exclusivamente para denotar, quer as reuniões religiosas dos judeus, quer os
edifícios em que eles se reuniam para o culto público, Mt 4.23; At 13.43; Ap
2.9; 3.9. O termo ekklesia, porém, geralmente designa a igreja
neotestamentária, embora nuns poucos lugares denote assembléias civis comuns,
At 19.32, 39, 41. A preposição ek,
de ekklesia (ekkaleo), muitas vezes é interpretada no sentido de “dentre
as massas do povo comum” e indicando, em conexão com o uso escriturístico de ekklesia,
que a igreja consiste dos eleitos, chamados para fora do mundo da humanidade.
Contudo, esta interpretação é duvidosa, pois, originalmente, a preposição ek
simplesmente denotava que os cidadãos gregos eram chamados para fora das suas
casas. Agora, não seria antinatural que aquela idéia inteiramente escriturística
tivesse sido introduzida na palavra, pela revelação de Deus. Mas, na verdade,
não temos prova de que isso foi feito realmente. O verbo composto ekkaleo
nunca é empregado desse modo, e a palavra ekklesia nunca ocorre num
contexto no qual se tivesse a noção da presença daquele particular pensamento
na mente do escritor. Deissmann simplesmente traduz ekklesia pela
expressão “a assembléia (convocada)”, considerando Deus como aquele que a
convoca. Dado que a idéia de igreja é um conceito caracterizado por muitas
facetas, é natural que a palavra ekklesia, aplicada a ela, nem sempre
tenha exatamente a mesma conotação. No Novo Testamento, Jesus foi o primeiro a
fazer uso da palavra, e Ele a aplicou ao grupo dos que se reuniram em torno
dele, Mt 16.18, reconheceram-no publicamente como seu Senhor e aceitaram os
princípios do reino de Deus. Era a ekklesia do Messias, o verdadeiro
Israel. Mais tarde, como resultado da expansão da igreja, a palavra adquiriu
várias significações. Igrejas locais foram estabelecidas em toda parte, e eram
também chamadas ekklesiai, desde que eram manifestações da igreja
universal de Cristo. Eis os usos mais importantes da palavra:
a. Com muita
freqüência a palavra ekklesia designa um círculo de crentes de alguma
localidade definida, uma igreja local, independentemente da questão se esses
crentes estão reunidos para o culto ou não. Algumas passagens apresentam a
idéia de que se acham reunidos, At 5.11; 11.26; 1 Co 11.18; 14.19, 28, 35,
enquanto que outras não, Rm 16.4; 1 Co 16.1; Gl 1.2; 1 Ts 2.14, etc.
b. Nalguns casos, a
palavra denota o que se pode denominar ekklesia doméstica, igreja na casa de
alguma pessoa. Ao que parece, nos tempos apostólicos, pessoas importantes por
sua riqueza ou por outras razões separavam em seus lares um amplo cômodo para o
serviço divino. Acham-se exemplos deste uso da palavra em Rm 16.23; 1 Co 16.19;
Cl 4.15; Fm 2.
c. Se a
interpretação de Tischendorf está certa (como hoje em dia se aceita que está),
a palavra se acha pelo menos uma vez, no singular, para denotar um grupo de
igrejas, a saber, as igrejas da Judéia, da Galiléia e de Samaria. A passagem em
que o termo é empregado desse modo é At 9.31. Naturalmente, isto ainda não
significa que elas constituíam uma organização como a que atualmente chamamos
denominação. Não é impossível que a igreja de Jerusalém e a de Antioquia da
Síria também abrangessem diversos grupos que habitualmente se reuniam em
diferentes lugares.
d. Num sentido mais
geral, a palavra serve para denotar a totalidade do corpo, no mundo inteiro,
daqueles que professam exteriormente a Cristo e se organizam para fins de
culto, sob a direção de oficiais para isso designados. Este sentido da palavra
está um tanto no primeiro plano da Primeira Epístola aos Coríntios, 10.32;
11.22; 12.28, mas também parece que estava presente na mente de Paulo quando
escreveu a Epístola aos Efésios, embora nesta carta a ênfase seja à igreja como
organismo espiritual; cf. especialmente Ef 4.11-16.
e. Finalmente, em
seu sentido mais compreensivo, a palavra se refere a todo o corpo de fiéis,
quer no céu quer na terra, que se uniram ou se unirão a Cristo como seu
Salvador. Este uso da palavra acha-se principalmente nas cartas de Paulo aos
efésios e aos Colossenses, mais freqüentemente na primeira destas, Ef 1.22;
3.10, 21; 5.23-25, 27, 32; Cl 1.18, 24.
Devemos ter em mente que os nomes em
inglês, holandês e alemão, “Church”, “Kerk” e “Kirche”, não são derivados da
palavra ekklesia, mas da palavra kyriake, que significa
“pertencente ao Senhor”. Eles salientam o fato de que a igreja é propriedade de
Deus. O nome to kyriakon ou he kyriake designava acima de
tudo o lugar onde a igreja se reunia. Entendia-se que este lugar pertencia ao
Senhor e, portanto, era chamado to kyriakon. Mas o primeiro lugar
propriamente dito era vazio e não se manifestava realmente como to kyriakon
enquanto a igreja não se reunia ali para o culto. Conseqüentemente, a palavra
foi transferida para a igreja mesma, o edifício espiritual de Deus.
3. OUTROS
DESIGNATIVOS BÍBLICOS DA IGREJA. O Novo Testamento contém vários designativos
figurados da igreja, cada qual ressaltando algum aspecto particular da igreja.
Esta é chamada:
a. Corpo de
Cristo. Em nossos dias, alguns parecem considerar este apelativo como uma
definição completa da igreja do Novo testamento, mas não era este o propósito
do seu uso. O nome não é aplicado somente à igreja universal, como em Ef 1.23;
Cl 1.18, mas também a uma congregação isolada, 1 Co 12.27. Ele dá relevo à
unidade da igreja, quer local quer universal, e particularmente ao fato de que
esta unidade é orgânica e de que o organismo da igreja tem relação vital com
Jesus Cristo visto como gloriosa cabeça.
b. Templo do
Espírito Santo ou de Deus. A igreja de Corinto é chamada “santuário de
Deus”, no qual o Espírito Santo habita, 1 Co 3.16. Em ef. 2.21, 22 Paulo fala
que os crentes crescem “para santuário dedicado ao Senhor” e que são edificados
“para habitação de Deus no Espírito”. O nome é aplicado à igreja ideal do
futuro, que é a igreja universal. E Pedro afirma que os crentes, como pedras
vivas, são edificados “casa espiritual”, I Pe 2.5. O contexto mostra que ele
está pensando num templo. Esta figura acentua o fato de que a igreja é santa e
inviolável. A permanência do Espírito Santo nela dá-lhe um caráter exaltado.
c. A Jerusalém
de cima, ou nova Jerusalém, ou Jerusalém celestial. Todas estas três formas
se acham na Bíblia, Gl 4.26; Hb 11.22; Ap 21.2; cf. os versículos 9 e 10. No
Velho Testamento Jerusalém é descrita como o lugar onde Deus habitava entre
querubins e onde, simbolicamente, Ele tinha contato com o Seu povo. O Novo
Testamento, evidentemente, considera a igreja como reprodução exata da
Jerusalém veterotestamentária e, daí, dá-lhe o mesmo nome. De acordo com esta
descrição, a igreja é o lugar de habitação, embora ainda parcialmente na terra,
pertence à esfera celestial.
d. Coluna e
baluarte da verdade. Há apenas um lugar em que o nome é aplicado à igreja,
a saber, 1 Tm 3.15. Refere-se à igreja em geral, e, portanto, aplica-se a cada
parte dela. A figura expressa o fato de que a igreja é guardiã da verdade,
cidadela da verdade e defensora da verdade contra os inimigos do reino de Deus.
B. A Doutrina da Igreja na História.
1. A DOUTRINA DA IGREJA ANTES DA REFORMA.
a. No período
patrístico. Pelos chamados pais apostólicos e pelos apologetas a igreja é
geralmente apresentada como a communio sanctorum, o povo de Deus que Ele
escolheu por possessão. Não se viu logo a necessidade de fazer distinções. Mas
já na segunda parte do século houve uma mudança perceptível. O surgimento de
heresias tornou imperativa a enumeração de algumas características pelas quais
se conhecesse a verdadeira igreja católica. Isso teve a tendência de
fixar a atenção na manifestação externa da igreja. Começou-se a conceber a
igreja como uma instituição externa, governada por um bispo como sucessor
direto dos apóstolos e possuidor da tradição verdadeira. A catolicidade da
igreja recebeu forte ênfase. As igrejas locais não eram consideradas como
unidades separadas, mas simplesmente como partes componentes da igreja
universal uma e única. O mundanismo e a corrupção crescentes na igreja foram
levando aos poucos a uma reação e deram surgimento à tendência em várias
seitas, como o montanismo em meados do segundo século, o novacianismo nos
meados do terceiro e o donatismo no início do quarto, de fazer da santidade dos
seus membros a marca da igreja verdadeira. Os pais primitivos da igreja assim
chamados, ao combaterem esses sectários, davam ênfase cada vez maior à
instituição episcopal da igreja. Cabe a Cipriano a distinção de ser o primeiro
a desenvolver plenamente a doutrina da igreja em sua estrutura episcopal. Ele
considerava os bispos como reais sucessores dos apóstolos e lhes atribuía
caráter sacerdotal em virtude da sua obra sacrificial. Juntos os bispos
formavam um colégio, chamado episcopado, que, como tal, constituía a unidade da
igreja. Assim, a unidade da igreja baseada na unidade dos bispos. Os que não se
sujeitavam os bispo perdiam o direito à comunhão da igreja e também a salvação,
desde que não há salvação fora da igreja. Agostinho não foi totalmente coerente
em sua concepção da igreja. Foi sua luta com os donatistas que o compeliu a
refletir mais profundamente sobre a natureza da igreja. De um lado, ele se
mostra o predestinacionista que concebe a igreja como a companhia dos eleitos,
a communio sanctorum, que têm o Espírito de Deus, e, portanto, são
caracterizados pelo amor verdadeiro. O importante é ser membro vivo da igreja
assim concebida, e não apenas pertencer a ela num sentido meramente externo.
Mas de outro lado, ele é o homem de igreja, que adere à idéia da igreja
defendida por Cipriano, ao menos em seus aspectos gerais. A igreja verdadeira é
a igreja católica, na qual a autoridade apostólica tem continuidade mediante a
sucessão episcopal. É depositária da graça divina, que ela distribui por meio
dos sacramentos. Esta igreja é, de fato, um corpo misto, no qual têm lugar
membros bons e maus. Em seu debate com os donatistas, porém, Agostinho admitia
que aqueles e estes não estavam na igreja no mesmo sentido. Ele preparou também
o caminho para a identificação católica romana da igreja com o reino de Deus.
b. Na Idade
Média. Os escolásticos não tinham muito que dizer acerca da igreja. O
sistema de doutrina desenvolvido por Cipriano e Agostinho estava completo, e
precisava apenas de uns pequenos retoques de acabamento para chegar ao seu
desenvolvimento final. Diz Otten (historiador católico romano): “Este sistema
foi recebido pelos escolásticos da Idade Média e depois foi passado por eles,
praticamente nas mesmas condições em que o tinham recebido, aos seus sucessores
de após o Concílio de Trento”.[7]
Incidentalmente, uns poucos pontos mais foram desenvolvidos de algum modo. Mas,
se houve pequeno desenvolvimento da doutrina da igreja propriamente
dita,a igreja mesma realmente se desenvolveu mais e mais, rumo a uma hierarquia
hermética e compactamente organizada e absoluta. As sementes deste
desenvolvimento já estavam na idéia da igreja apregoada por Cipriano e num
aspecto da igreja como descrita por Agostinho. A outra idéia,e mais
fundamental, daquele grande “pai da igreja”, a da igreja como communio
sanctorum, em geral foi desconsiderada e, assim, ficou adormecida. Isto não
quer dizer que os escolásticos negavam completamente o elemento espiritual, mas
simplesmente que não lhe davam a devida proeminência. A ênfase era mui
definidamente à igreja como uma organização ou instituição externa. Hugo de S.
Victor fala da igreja e do estado como os dois poderes instituídos por Deus
para governarem o povo. Ambos são de constituição monárquica, mas a igreja é o
poder superior, porque ministra a salvação dos homens, ao passo que o Estado só
providencia o seu bem-estar temporal. O rei ou imperador é o chefe do estado,
mas o papa é o chefe da igreja. Há duas classes de pessoas na igreja, com
direitos e deveres bem definidos; os clérigos, dedicados ao serviço de Deus,
que constituem uma unidade; e os leigos, que consistem as pessoas de todas as
esferas da vida e que constituem uma classe totalmente separada. Passo a passo
a doutrina do pecado foi-se desenvolvendo, até que, por fim, o papa se tornou
virtualmente um monarca absoluto. O crescimento desta doutrina foi auxiliado,
em não pequena medida, pelo desenvolvimento da idéia de que a igreja católica
era o reino de Deus na terra, e, portanto, o bispado romano era um reino
terreno. Esta identificação da igreja visível e organizada com o reino de Deus
teve conseqüência de longo alcance: (1) Exigia que tudo fosse colocado debaixo
do poder da igreja: o lar e a escola, as ciências e as artes, o comércio e a
indústria, e tudo mais. (2) Envolvia a idéia de que todas as bênçãos da
salvação chegam ao homem unicamente por meio das ordenanças da igreja, em
particular, mediante sacramentos. (3) Levou à gradual secularização da igreja,
visto que esta começou a dar mais atenção à política do que à salvação dos
pecadores e, finalmente, os papas reivindicaram domínio sobre os governantes
seculares também.
2. A DOUTRINA DA IGREJA DURANTE E APÓS A
REFORMA.
a. Durante o
período da Reforma. Os Reformadores romperam com a concepção católica
romana da igreja, mas tiveram diferenças entre si nalgumas particularidades. A
idéia de uma igreja infalível e hierárquica, e de um sacerdócio especial, que
dispensa a salvação por intermédio dos sacramentos, não teve o apoio de Lutero.
Ele considerava a igreja como a comunhão espiritual daqueles que crêem em
Cristo, e restabeleceu a idéia escriturística do sacerdócio de todos os
crentes. Ele defendia a unidade da igreja, mas distinguia dois aspectos dela,
um visível e outro invisível. Ele teve o cuidado de assinalar que não existem
duas igrejas, mas simplesmente dois aspectos da mesma igreja. A igreja
invisível torna-se visível, não pelo governo de bispos e cardeais, nem na
chefia do papa, mas pela administração da Palavra e dos sacramentos. Lutero
admitia que a igreja visível sempre conterá uma mistura e membros fiéis e
ímpios. Contudo, em sua reação contra a idéia católica romana do domínio da
igreja sobre o estado, ele foi ao outro extremo e virtualmente sujeitou a igreja
ao estado em tudo, menos na pregação da Palavra. Os anabatistas não ficaram
satisfeitos com a posição de Lutero e insistiam numa igreja só de crentes. Em
muitos casos, eles zombavam da igreja visível e dos meios de graça. Além disso,
exigiam completa separação de igreja e estado. Calvino e os teólogos reformados
estavam de acordo com Lutero quanto à confissão de que a igreja é
essencialmente uma communio sanctorum, uma comunhão de santos. Todavia,
eles não procuravam, como os luteranos, a unidade e a santidade da igreja
primariamente nas ordenanças objetivas da igreja, tais como os ofícios, a
Palavra e os sacramentos, mas sobretudo na comunhão subjetiva dos crentes.
Distinguiam, também, entre um aspecto visível e um aspecto invisível da igreja,
embora de maneira ligeiramente diversa. Ademais, encontravam as verdadeiras
marcas da igreja, não somente na correta administração da Palavra e dos
Sacramentos, mas também na fiel administração da disciplina da igreja. Mas, até
mesmo Calvino e os teólogos reformados do século dezessete fomentaram, em certa
medida, a idéia de sujeição da igreja ao estado. Contudo, estabeleceram uma
forma de governo da igreja que propiciava maior grau de independência e poder
eclesiásticos que o que se conhecia na igreja luterana. Mas, enquanto que tanto
os teólogos luteranos como os reformados (calvinistas) procuravam manter a
relação apropriada entre a igreja visível e a invisível, outros perderam isto
de vista. Os socinianos e os arminianos do século dezessete, embora na verdade
falassem de uma igreja invisível, esqueceram tudo que diz respeito à vida real.
Os primeiros concebiam a religião cristã simplesmente como uma doutrina
aceitável, e os últimos faziam da igreja primariamente uma sociedade visível e
seguiam a igreja luterana no sentido de entregarem ao estado o direito de
ministrar a disciplina, e de reterem para a igreja somente o direito de pregar
o Evangelho e admoestar os membros da Igreja. Por outro lado, os labadistas e
os pietistas manifestaram a tendência de desconsiderar a igreja visível,
procurando uma igreja só de crentes, mostrando-se indiferentes para com a
igreja institucional com sua mescla de bons e maus, e buscando edificação nos
conventículos.
b. Durante e
após o século dezoito. Durante o século dezoito o racionalismo também fez
sentir sua influência sobre a doutrina da igreja. Era indiferente em matéria de
fé e não tinha entusiasmo pela igreja, que ele colocou a par com outras
sociedades humanas.até negava que Cristo tivesse a intenção de fundar uma
igreja no sentido geralmente aceito da palavra. Houve uma reação pietista ao
racionalismo no metodismo, mas o metodismo em nada contribuiu para o
desenvolvimento da doutrina da igreja. Nalguns casos, ele procurou força na
repreensão lançada às igrejas existentes, e noutros, adaptou-se à vida destas
igrejas. Para Schleiermacher, a igreja era essencialmente a comunidade cristã,
o corpo dos crentes animados pelo mesmo espírito. Ele via pouca utilidade na
distinção entre a igreja visível e a invisível, e via a essência da igreja no
espírito de companheirismo cristão. Quanto mais o Espírito de Deus penetrar a
totalidade dos crentes cristãos, menos divisões haverá, e mais perderão elas a
sua importância. Ritschl substituiu a distinção entre a igreja invisível e a
visível pela distinção entre o reino e a igreja. Ele considerava o reino como a
comunidade do povo de Deus que age motivado pelo amor, e a igreja como aquela
mesma comunidade reunida para o culto. O nome “igreja” restringe-se, pois, a
uma organização externa com a função única de cultuar; e esta função apenas
capacita os crentes a familiarizar-se melhor uns com os outros. Isto certamente
está longe do ensino do Novo Testamento. Leva diretamente à concepção “liberal”
moderna da igreja como um mero centro social, uma instituição humana, e não uma
lavoura de Deus.
BIBLIOGRAFIA PARA
CONSULTA: Bavinck, Geref. Dogm. IV, p.
302-319; Innes, Church and State; Cunningham, Historical Theology, dois
volumes, cf. o Índice; Hauck, Real-Encyclopaedie, Art. Kirche, de Koestlin
of Dogma, principalmente as de Harnak, Seeberg, Sheldon e Otten, cf. Índices.
II. Natureza da Igreja
A. A Essência da Igreja.
1. A CONCEPÇÃO CATÓLICA ROMANA. Os cristãos
primitivos falavam da igreja como a communio sanctorum e assim, sem
contudo terem pensado na matéria completamente, já deram expressão à essência
da igreja. Logo, porém, no fim do segundo século, como resultado do surgimento
de heresias, a questão quanto à verdadeira igreja se lhes impôs e os levou a
fixar a atenção em certas características da igreja como instituição externa.
Desde o tempo de Cipriano até a Reforma, a essência da igreja foi cada vez mais
procurada em sua organização visível e externa. Os chamados pais da igreja
entendiam que a igreja compreende todos os ramos da igreja de Cristo e que é
entrelaçada numa unidade externa e visível, tendo seu laço unificador no
colégio de bispos. A concepção da igreja como organização externa com o tempo
foi ganhando proeminência. Foi dada crescente ênfase à sua organização
hierárquica, e nesta foi posto o selo definitivo com a instituição do papado.
Os católicos romanos definem a igreja como: “A congregação de todos os fiéis
que, sendo batizados, professam a mesma fé, participam dos mesmos sacramentos e
são governados por seus legítimos pastores, sob um chefe visível na terra”.
Eles fazem distinção entre a ecclesia docens e a ecclesia audiens
(igreja docente e ouvinte), isto é, entre “a igreja que consiste dos que
governam, ensinam e edificam” e “a igreja que é ensinada e governada, e que
recebe os sacramentos”. No sentido estrito da palavra, não é a ecclesia
audiens que constitui a igreja, mas, sim, a ecclesia docens. Esta
participa diretamente dos gloriosos atributos da igreja, mas aquela só
indiretamente é adornada por eles. Os católicos romanos estão prontos a admitir
que há um lado invisível da igreja, mas preferem reservar o nome “igreja” para
a comunhão visível dos crentes. Falam eles com freqüência da “alma da igreja”,
mas não parecem estar em pleno acordo quanto à conotação exata do termo. Devine
define a alma da igreja como a “sociedade daqueles que são chamados para a fé
em Cristo e que são unidos a Cristo por dons e graças sobrenaturais”.[8]
Wilmers, porém, a vê “naquelas graças espirituais e sobrenaturais que
constituem a igreja de Cristo e habilitam os seus membros a alcançarem o seu
fim último”. Diz ele: “O que denominamos alma em geral é aquele
princípio impregnante que dá vida a um corpo e capacita os seus membros a
exercerem funções peculiares. À alma da igreja pertencem a fé, a comum aspiração
de todos pelo mesmo fim, a invisível autoridade dos superiores, a graça
interior da santificação, as virtudes sobrenaturais e outros dons da graça”.[9]
O primeiro escritor supracitado vê a alma da igreja em certas pessoas
qualificadas, enquanto que o segundo a considera como um princípio totalmente
impregnante, algo semelhante à alma do homem. Mas, seja o que for que os
católicos romanos estejam prontos a admitir, eles não admitem que aquilo que se
pode denominar “igreja invisível” preceda logicamente à visível. Diz Moehler:
“Os católicos (romanos) ensinam: primeiro vem a igreja visível – depois a
invisível: a primeira dá nascimento à segunda”. Quer dizer que a igreja é a mater
fidelium (mãe dos crentes) antes de ser uma communio fidelium
(comunidade de crentes). Contudo, Moehler concede que há um sentido em que a
“igreja interna” antecede à “igreja externa”, a saber, no sentido de que não
somos membros vivos desta enquanto não pertencermos àquela. Ele discute todo o
assunto da relação mútua das duas em sua obra. Symbolism or Doctrinal
Differences (Simbolismo ou Diferenças Doutrinárias).[10]
Salienta ele a identidade da igreja visível com Cristo: “Assim, do ponto de
vista aqui tomado, a igreja visível é o Filho de Deus perenemente se
manifestando entre os homens em forma humana, perpetuamente renovada e
eternamente jovem – a permanente encarnação dele, como na Escritura Sagrada,
pelo que os fiéis são chamados ‘corpo de Cristo’”.[11]
2. A CONCEPÇÃO ORTODOXA GREGA. A concepção
ortodoxa grega da igreja é estreitamente relacionada com a dos católicos
romanos, e, todavia, difere dela nalguns pontos importantes. Essa igreja não
reconhece a Igreja Católica Romana como a igreja verdadeira, mas
reivindica para si esta honra. Há somente uma igreja verdadeira, e essa igreja
é a Ortodoxa Grega. Conquanto reconheça com maior franqueza do que os católicos
romanos os dois diferentes aspectos da igreja, visível e invisível, não
obstante coloca a ênfase na igreja como organização. Ela vê a essência da
igreja em seu caráter de comunidade dos santos, mas na hierarquia episcopal,
que ela conservou, apesar de rejeitar o papado. A infalibilidade da igreja é
defendida, mas esta infalibilidade reside nos bispos, e, portanto, nos
concílios e sínodos eclesiásticos. “Como invisível”, diz Gavin, “ela (a igreja)
é portadora de dons e poderes divinos e está empenhada em transformar a
humanidade no reino de Deus. Como visível, ela é constituída de homens que
professam uma fé comum, observam costumes comuns e usam meios de graça
visíveis”. Ao mesmo tempo, é rejeitada a idéia de “uma igreja invisível e
ideal, da qual os vários corpos de cristãos, formando organizações distintas e
se chamando ‘igrejas’, são incorporações parciais e incompletas”. A igreja é
“uma entidade concreta, tangível e visível, não um ideal não realizado e
irrealizável”.[12]
3. A CONCEPÇÃO PROTESTANTE. A Reforma foi uma
reação contra o externalismo de Roma em Geral, e em particular, também contra a
sua concepção externa da igreja. Ela tornou a trazer ao primeiro plano a
verdade de que a essência da igreja não se acha na organização externa da
igreja, mas nesta como a communio sanctorum. Tanto para Lutero como para
Calvino, a igreja era simplesmente a comunidade dos santos, isto é, a
comunidade dos que crêem e são santificados em Cristo, e que estão ligados a
Ele, sendo Ele a sua Cabeça. Esta é também a posição exposta nos padrões
confessionais reformados (calvinistas). Daí, diz a Confissão Belga: “Cremos e
professamos uma só igreja católica ou universal, que é uma santa congregação de
verdadeiros crentes cristãos, todos esperando a sua salvação em Jesus Cristo, sendo lavados por
Seu sangue, santificados e selados pelo Espírito Santo”.[13]
A Segunda Confissão Helvética expressa a mesma verdade, dizendo que a igreja é
“uma assembléia dos fiéis, convocada e reunida do mundo, uma comunhão de todos
os santos, isto é, daqueles que verdadeiramente conhecem e retamente adoram e
servem o verdadeiro Deus em Jesus Cristo, o Salvador, pela
palavra do Espírito Santo, e que pela fé participam de todos os benefícios
gratuitamente oferecidos mediante Cristo”.[14]
E a Confissão de Westminster, definindo a igreja do ponto de vista da eleição,
diz: “A igreja católica ou universal, que é invisível, consta do numero total
dos eleitos que já forma, dos que agora são e dos que ainda serão reunidos em
um só corpo sob Cristo, sua cabeça; ela é a esposa, o corpo, a plenitude
daquele que cumpre tudo em todas as coisas”.[15]
A igreja universal, sito é, a igreja como existe no plano de Deus e só se
concretiza no transcurso dos séculos, foi entendida no sentido de que consiste
do corpo completo dos eleitos, os quais, no transcorrer do tempo, são chamados
para a vida eterna. Mas a igreja, como existe realmente na terra, foi
considerada como a comunidade dos santos. E não é somente a igreja invisível
que foi entendida assim, mas a igreja visível também. Estas não são duas
igrejas, mas uma somente e, portanto, têm apenas uma única essência. Uma, bem
como a outra, é essencialmente a communio sanctorum, mas a igreja invisível é a
igreja como Deus a vê, uma igreja que só contém crentes, ao passo que a igreja
visível é a igreja como o homem a vê, composta dos que professam a Jesus
Cristo, juntamente com seus filhos e, portanto, julgados como sendo a
comunidade dos santos. Esta pode conter, e sempre contém de fato, alguns que
ainda não foram regenerados – pode haver joio entre o trigo – porém não pode
tolerar incrédulos declarados e pessoas ímpias. Paulo dirige as suas epístolas
a igrejas empíricas, e não hesita em tratar os seus membros de “santos”, mas
também insiste na necessidade de expulsar os ímpios e os que, praticam delitos,
1 Co 5; 2 Ts 3.6, 14; Tt 3.10. A igreja forma uma unidade espiritual da qual
Cristo é o Chefe divino. É animada por um Espírito, o Espírito de Cristo;
professa uma fé, comparte uma esperança e serve a um só Rei. É a cidadela da
verdade e a agência de Deus para comunicar aos crentes todas as bênçãos
espirituais. Como corpo de Cristo, está destinada a refletir a glória de Deus
como esta se vê manifestada na obra de redenção. A igreja, em seu sentido
ideal, a igreja como Deus quer que ela seja e como um dia virá a ser, é mais
objeto de fé que de conhecimento. Daí a confissão: “Creio na santa igreja
católica”.
B. O caráter Multiforme da Igreja.
Ao falarmos da
igreja, varias distinções entrarão em consideração.
1. A DA IGREJA MILITANTE E A IGREJA TRIUNFANTE.
Na presente dispensação, a igreja é militante, isto é, convocada para uma
guerra santa, e de fato nela está emprenhada. Isto, naturalmente, não significa
que ela deve gastar suas forças em lutas sangrentas de autodestruição, mas,
sim, que tem o dever de levar avante uma incessante guerra contra o mundo
hostil em todas as formas em que este se revele, seja na igreja ou fora dela, e
contra todos os poderes espirituais das trevas. A igreja não pode passar o
tempo todo em oração e meditação, embora estas práticas sejam tão necessárias e
importantes, nem tampouco deve parar de agir, no pacífico gozo da sua herança
espiritual. Ela tem que estar engajada com todas as suas forças nas pelejas do
seu Senhor, combatendo numa guerra que é tanto ofensiva como defensiva. Se a
igreja na terra é a igreja militante, no céu é a igreja triunfante. Lá a espada
é permutada pelos louros da vitória, os brados de guerra se transformam em cânticos
triunfais, e a cruz é substituída pela coroa. A luta é finda, a batalha está
ganha, e os santos reinam com Cristo para todo o sempre. Nestes dois estágios
da sua existência, a igreja reflete a humilhação e a exaltação do seu celestial
Senhor. Os católicos romanos falam, não somente de uma igreja militante e
triunfante, mas também de uma igreja padecente. Esta igreja, de acordo
com eles, inclui todos os crentes que já não estão na terra, mas que ainda não
penetraram nos gozos do céu, e agora estão sendo purificados dos seus restantes
pecados no purgatório.
2. DISTINÇÃO ENTRE
IGREJA VISÍVEL E INVISÍVEL. Quer dizer que, de um lado, a igreja de Deus é
visível, e de outro, é invisível. Dizem que Lutero foi o primeiro a fazer esta
distinção, mas os outros Reformadores a reconheceram e também a aplicaram à
igreja. Nem sempre se entendeu bem esta distinção. Os oponentes dos
Reformadores freqüentemente os acusavam de ensinarem que existem duas igrejas
separadas. Lutero talvez tenha dado ocasião a esta acusação, por falar de uma ecclesiola
invisível dentro da ecclesia visível. Mas tanto ele como Calvino
acentuam o fato de que, quando falam de uma igreja visível e invisível, não se
referem a duas igrejas, mas a dois aspectos da única igreja de Jesus Cristo.
Tem-se interpretado variadamente o termo “invisível” como aplicável (a) à
igreja triunfante; (b) à igreja ideal e completa, como será no fim dos séculos;
(c) à igreja de todas as terras e de todos os lugares, que o homem não tem
nenhuma possibilidade de ver; e (d) à igreja como ela vive nos dias de
perseguição, oculta e privada da Palavra e dos sacramentos. Agora, é
indubitavelmente certo que a igreja triunfante é invisível para os que se acham
na terra, e que Calvino, em suas Institutas, também concebe
como incluída na igreja invisível, mas, sem dúvida, a distinção foi feita
principalmente com a intenção de aplicar-se à igreja militante. Em geral, é
feita essa aplicação na teologia reformada (calvinista). Ela ressalta o fato de
que a igreja, como existe na terra, é visível e invisível. Esta igreja é dita
invisível porque é essencialmente espiritual e, em sua essência espiritual, não
a pode discernir o olho humano; e porque é impossível determinar infalivelmente
quem não lhe pertence. A união dos crentes com Cristo é uma união mística; o
Espírito que o une constitui um laço invisível; e as bênçãos da salvação, tais
como a regeneração, a conversão genuína, a fé verdadeira e a comunhão
espiritual com Cristo, são todas invisíveis aos olhos naturais; – e, todavia,
estas coisas constituem a forma real (o caráter ideal) da igreja. Que o
termo “invisível” deve ser entendido neste sentido, vê-se pela origem histórica
da distinção entre a igreja visível e a invisível na época da Reforma. A Bíblia
atribui certos atributos gloriosos à igreja e a apresenta como um meio de
salvação e de bênçãos eternais. Roma aplicava isto à igreja como instituição
externa, mais particularmente à ecclesia representativa ou à
hierarquia como distribuidora das bênçãos da salvação e, assim, ignorava e
virtualmente negava a comunhão imediata e direta de Deus com os Seus filhos,
colocando entre eles um sacerdócio mediatário humano. Este é o erro que os
Reformadores procuraram erradicar salientando o fato de que a igreja da qual a
Bíblia diz coisas tão gloriosas não é a igreja considerada como instituição
externa, mas a igreja como corpo espiritual de Jesus Cristo, que é
essencialmente invisível no presente, embora tendo uma encarnação relativa e
imperfeita na igreja visível e esteja destinada a ter uma perfeita encarnação
visível no fim dos séculos.
Naturalmente , a
igreja invisível assume uma forma visível. Justamente como a alma humana se
adapta a um corpo e se expressa por meio do corpo, assim a igreja invisível,
que consiste, não de almas, mas de seres humanas que têm alma e corpo, assume
necessariamente forma visível numa organização externa, por meio da qual se
expressa. A igreja é visível na profissão de fé e conduta cristã, no ministério
da Palavra e dos sacramentos, e na organização externa e seu governo. Ao fazer
esta distinção, diz McPherson: “O protestantismo procurou encontrar o ponto
médio adequado entre o externalismo mágico e sobrenatural da idéia romanista e
a extravagante depreciação de todos os ritos externos característica do
espiritualismo fanático e sectário”.[16]
É muito importante ter em mente que, embora tanto a igreja invisível como a
visível possam ser consideradas universais, as duas não são comensuráveis em
todos os aspectos. É possível que alguns pertencem à igreja invisível nunca se
tornem membros da organização visível, como as pessoas alcançadas pela ação
missionária e convertidas em seus leitos de morte, e que outros sejam
temporariamente excluídos dela, como crentes errantes por algum tempo afastados
da comunhão da igreja visível. Por outro lado, pode haver crianças e adultos
não regenerados que, apesar de professarem a Cristo, não têm a verdadeira fé
nele, se achem na igreja como instituição externa; e estes, enquanto estiverem
nestas condições, não pertencerão à igreja invisível. Pode-se achar boas
definições da igreja invisível na Confissão de Westminster.
3. A DISTINÇÃO ENTRE A IGREJA COMO ORGANISMO E
A IGREJA COMO INSTITUIÇÃO. Não se deve identificar esta distinção com a
imediatamente anterior, como às vezes se faz. É uma distinção que se aplica à
igreja visível e dirige a atenção a dois aspectos diferentes da igreja
considerada como corpo visível.[17]
É um erro pensar que a igreja só se torna visível nos ofícios, na administração
da Palavra e dos Sacramentos e numa certa forma de governo eclesiástico. Mesmo
que todas estas coisa estivessem ausentes, a igreja continuaria sendo visível
na vida comunitária e no testemunho público dos crentes, e em sua unida
oposição ao mundo. Mas, embora salientando o fato de que a distinção em foco é
feita dentro da igreja visível, não devemos esquecer que tanto a igreja como
organismo como a igreja como instituição (também chamadas apparitio e institutio
– função e instituição) têm seu pano de fundo na igreja invisível. Contudo,
apesar de ser verdade que estes são dois aspectos diferentes da igreja visível,
representam diferenças importantes. A igreja como organismo é o coetus
fidelium, a união ou comunhão dos fiéis, unidos pelo vínculo do Espírito,
enquanto que a igreja como instituição é a mater fidelium, a mãe dos
fiéis, uma Heilsanstalt, um meio de salvação, uma agência para a
conversão dos pecadores e para o aperfeiçoamento dos santos. A igreja como
organismo tem existência carismática: nela todos os tipos de dons e talentos
tornam-se manifestos e são utilizados na obra do Senhor. A igreja como
instituição, por outro lado, existe numa forma institucional e funciona por
meio dos ofícios e meios que Deus instituiu. Num sentido, ambas são
coordenadas, e , todavia, há também certa subordinação de uma à outra. A igreja
como instituição ou organização (mater fidelium) é um meio para um fim,
e este fim se acha na igreja como organismo, a comunidade dos crentes (coetus
fidelium).
C. Várias Definições da Igreja
Sendo a igreja uma entidade
multilateral, também é definida segundo mais de um ponto de vista.
1. DO PONTO DE
VISTA DA ELEIÇÃO. Segundo alguns teólogos, a igreja é a comunidade dos eleitos,
o coetus electorum. Contudo, esta definição tende a ser um tanto
enganosa. Ela se aplica unicamente à igreja considerada idealmente, como existe
na idéia de Deus e como será completada no fim dos séculos, e não à igreja como
realidade presente e empírica. A eleição inclui todos os que pertencem ao corpo
de Cristo, independentemente da sua real e atual relação com ele. Mas os
eleitos que ainda não nasceram, ou que ainda são estranhos a Cristo e estão
fora da proteção da igreja, não podem ser referidos como pertencentes à igreja realiter
(realmente).
2. DO PONTO DE
VISTA DA VOCAÇÃO EFICAZ. Para fugir à objeção levantada contra a definição
anterior, gradualmente se tornou costumeiro definir a igreja do ponto de vista
de alguma característica espiritual subjetiva daqueles que pertencem a ela,
especialmente a vocação eficaz ou a fé, ou incluindo essa característica em acréscimo
à eleição, ou substituindo a eleição por ela. Assim, a igreja foi definida como
a agremiação dos eleitos que são chamados pelo Espírito de Deus (coetus
electorum vocatorum) como o corpo dos que efetivamente são chamados (coetus
vocatorum), ou, ainda mais comumente, como a comunidade dos crentes ou
fiéis (coetus fidelium). Destas definições as duas primeiras têm o
propósito de designar a igreja quanto à sua essência invisível, mas não dão
nenhuma indicação do fato de que ela tem também uma faceta visível. Isso é
feito, porém, na última definição mencionada, pois a fé se revela na confissão
e na conduta.
3. DO PONTO DE
VISTA DO BATISMO E PROFISSÃO. Do ponto de vista do batismo e da profissão, a
igreja tem sido definida como a comunidade dos que são batizados e professam a
fé verdadeira; ou como a comunidade dos que professam a religião verdadeira junto
com os seus filhos. Prontamente se verá que esta é uma definição da igreja
conforme a sua manifestação externa. Calvino define a igreja como a “multidão de
pessoas espalhadas pelo mundo, que professam adoração a um só Deus em Cristo;
são iniciadas nesta fé pelo batismo; dão testemunho da sua unidade e amor por
sua participação na Ceia; estão de acordo na Palavra de Deus, e pela pregação
dessa Palavra mantêm o ministério ordenado de Cristo”.[18]
D. A igreja e o Reino de Deus.
1. A IDÉIA DO REINO DE DEUS. O reino de Deus é
primariamente um conceito escatológico. Na Escritura, a idéia fundamental do
Reino não é a de um restaurado e teocrático reino de Deus em Cristo –
essencialmente, um reino de Israel – como pretendem os premilenistas; tampouco
é uma nova condição social dominada pelo Espírito de Cristo e realizada pelo
homem, mediante meios externos como boas leis, a civilização, a educação,
reformas sociais etc., como os modernistas querem que acreditemos. A idéia
primordial do reino de Deus na Escritura é a do governo de Deus estabelecido e
reconhecido nos corações dos pecadores pela poderosa influência regeneradora do
Espírito Santo, assegurando-lhes as inestimáveis bênçãos da salvação – um
governo que, em princípio, é realizado na terra, mas que não chegará à sua
culminação antes do visível e glorioso retorno de Jesus Cristo. Sua realização
atual é espiritual e invisível. Jesus se apossou deste conceito escatológico e
lhe deu proeminência em Seus ensinos. Ele ensinou com clareza a realização
espiritual atual e o caráter universal do Reino. Além disso, Ele próprio
efetuou essa realização numa medida até então desconhecida e multiplicou
grandemente as bênçãos atuais do Reino. Ao mesmo tempo, Ele ofereceu a bendita
esperança da futura manifestação desse Reino em glória externa e com as
perfeitas bênçãos da salvação.
2. CONCEPÇÕES
HISTÓRICAS DO REINO. Para os chamados pais primitivos da igreja, o reino de
Deus, o bem supremo, é considerado primariamente como uma entidade futura, a
meta do presente desenvolvimento da igreja. Alguns deles o consideravam como o
vindouro governo milenário do Messias, apesar de que a história não dá suporte
às pretensões exageradas de alguns escritores premilenistas sobre o número
deles. Agostinho via o Reino como uma realidade presente e identificada com a
igreja. Para ele o Reino se identifica primordialmente com os piedosos e
santos, isto é, com a igreja como uma comunidade de crentes; mas ele empregava
algumas expressões que parecem indicar que também o via incorporado na igreja
organizada episcopalmente. A Igreja Católica Romana identificava francamente o
reino de Deus com a sua instituição hierárquica, mas os Reformadores
recuperaram o conceito de que, nesta dispensação, ele se identifica. Com a
igreja invisível. Sob a influencia de Kant, e principalmente de Ritschl, ele
foi despojado do seu caráter religioso e veio a ser considerado como um reino
ético de fins. Atualmente, muitas vezes é definido como um novo princípio
introduzido na sociedade e destinado a transforma-la em todas as suas relações,
ou como a organização moral da humanidade mediante ação decorrente da motivação
do amor – o fim, último da criação.
3. O REINO DE DEUS
E A IGREJA INVISÍVEL. Conquanto o reino de Deus e a igreja invisível sejam até
certo ponto idênticos, não obstante deve-se fazer cuidadosa distinção entre
eles. A condição de cidadão daquele e de membro desta é igualmente determinada
pela regeneração. É impossível estar no reino de Seus sem estar na igreja como
corpo místico de Jesus Cristo. Ao mesmo tempo, é possível distinguir entre o
ponto de vista segundo o qual os crentes são chamados o Reino, e o ponto de
vista segundo o qual eles são chamados a Igreja. Constituem um reino em sua
relação com Deus em Cristo como o seu Governador, e uma igreja em sua separação
do mundo na devoção a Deus, e em sua união orgânica uns com os outros. Como uma
igreja, são chamados para serem instrumento de Deus no preparo do caminho para
a ordem ideal de coisas e na introdução dessa ordem; e como um reino,
representam a realização inicial da ordem ideal entre eles.
4. O REINO DE DEUS
E A IGREJA VISÍVEL. Desde que os católicos romanos insistem indiscriminadamente
na identificação do reino de Deus e a igreja, sua igreja reclama poder e
jurisdição sobre todos os domínios da vida, como a ciência e as artes, o
comércio e a indústria, como também sobre as organizações sociais e políticas.
Este é um conceito completamente equivocado. Também é um engano defender, como
alguns cristãos reformados (calvinistas) o fazem, em virtude de uma concepção
errônea da igreja como organismo, que as associações escolares cristãs, as
organizações voluntárias de jovens ou de adultos dedicadas ao estudo dos princípios
cristãos e sua aplicação na vida, as uniões de trabalhadores cristãos e as
organizações políticas cristãs são manifestações da igreja como organismo,
porquanto isto as coloca outra vez debaixo do domínio da igreja visível e do
governo direto dos seus oficiais. Naturalmente, isto não significa que a igreja
não tem nenhuma responsabilidade com relação a tais organizações. Significa,
porém, que elas são manifestações do reino de Deus, nas quais grupos de
cristãos procuram aplicar os princípios do Reino a todas as esferas da vida. A
igreja visível e o reino de Deus também podem ser identificados até certo
ponto. Certamente se pode dizer que a igreja visível pertence ao Reino, faz
parte do Reino e até constitui a mais importante incorporação visível das forças
do Reino. Ela compartilha o caráter da igreja invisível (sendo ambas uma só)
como meio para a realização do reino de Deus. Como a igreja visível, o Reino
também participa das imperfeições às quais o mundo pecaminoso o expõe. Isto
fica mais que evidente à luz das parábolas do trigo e o joio, e da rede. Na
medida em que a igreja visível serve de instrumento para o estabelecimento e a
extensão do Reino, naturalmente ela está subordinada a este como um meio para
um fim. Pode-se dizer que o Reino é um conceito mais amplo que a igreja, porque
objetiva nada menos que o domínio completo de todas as manifestações da vida.
Ele representa o domínio de Deus em todas as esferas do esforço humano.
E. A Igreja e as Diferentes Dispensações
1. NO PERÍODO
PATRIARCAL. No período patriarcal as famílias dos crentes constituíam as
congregações religiosas; a igreja era mais bem representada nos lares piedosos,
onde os pais serviam de sacerdotes. Não havia culto regular, embora Gn 4.26
pareça implicar uma invocação pública do nome do Senhor. Havia distinção entre
os filhos de Deus e os filhos dos homens, estes gradativamente ganhando
predominância. Por ocasião do Dilúvio, a igreja foi salva na família de Noé, e
continuou particularmente na linhagem de Sem. E quando a religião verdadeira
estava de novo a ponto de morrer, Deus fez uma aliança com Abraão, deu-lhe como
sinal a circuncisão e o separou e aos seus descendentes do mundo, para serem o
Seu povo peculiar. Até a época de Moisés, as famílias patriarcas eram os
verdadeiros repositórios da verdadeira fé, nos quais o temor de Jeová e o
serviço do Senhor eram mantidos vivos.
2. NO PERÍODO
MOSAICO. Depois do êxodo, o povo de Israel não só se organizou como nação, mas
também se constituiu igreja de Deus. Foi enriquecido com instituições em que
não somente a devoção familial ou a fé tribal, mas a religião da nação podia
achar expressão. A igreja ainda não obtivera uma organização independente, mas
tinha a sua existência institucional na vida nacional de Israel. A forma
particular assumida por ela era a de um estado eclesiástico. Não podemos dizer
que os dois estavam completamente aglutinados. Havia funcionários e
instituições civis e religiosos separados dentro das fronteiras da nação. Mas,
ao mesmo tempo, a nação toda constituía a igreja; e a igreja estava limitada à
nação de Israel, embora os estrangeiros pudessem ingressar nela e incorporar-se
à nação. Neste período houve marcante desenvolvimento da doutrina, um aumento
na quantidade das verdades religiosas conhecidas e maior clareza na apreensão
da verdade. O culto de Deus foi regulamentado nos mínimos pormenores, era
grandemente ritual e cerimonial, e estava centralizado num único santuário
central.
3. NO NOVO
TESTAMENTO. A igreja do Novo Testamento e a da antiga dispensação são essencialmente
uma só. No que se refere à sua natureza essencial, ambas consistem de crentes
verdadeiros, e tão somente de crentes verdadeiros. E, em sua organização
externa, ambas representam uma mistura de bons e maus. Contudo, diversas
mudanças importantes resultaram da obra realizada por Jesus Cristo. A igreja
foi separada da vida nacional de Israel e obteve uma organização independente.
Em conexão com isto, os limites nacionais da igreja foram eliminados. O que até
essa época tinha sido uma igreja nacional, agora assumiu caráter universal. E a
fim de realizar o ideal de extensão mundial, teve que se tornar uma igreja
missionária, levando o Evangelho da salvação a todas as nações do mundo. Além
disso, o culto ritual do passado deu lugar a um culto mais espiritual, em
harmonia com os privilégios do Novo Testamento, que são maiores.
A descrição dada
acima parte do pressuposto de que a igreja existiu tanto na antiga dispensação
quanto na nova, e era essencialmente a mesma nas duas, a despeito das
reconhecidas diferenças institucionais e administrativas. Isso está em harmonia
com os ensinos dos nossos padrões confessionais. A Confissão Belga, em seu Artigo XXVII, diz: “Esta igreja
existe desde o princípio do mundo, e existirá até o fim dele; o que é evidente
pelo fato de que Cristo é Rei eterno, que não poderá ficar sem súditos”. Em
pleno acordo com isto, o Catecismo de Heidelberg, diz, sobre o Dia do
Senhor, XXI: “Que o Filho de Deus, de toda a raça humana, do começo ao fim do
mundo, reúne, defende e preserva para Si, por Seu Espírito e Sua Palavra, na
unidade da fé verdadeira, uma igreja escolhida para a vida sempiterna”. Como
foi assinalado acima, a igreja é essencialmente a comunidade dos crentes, e
esta comunidade existe desde o início da antiga dispensação, até a época atual,
e continuará a existir na terra até o fim do mundo. Neste ponto não podemos
concordar com aqueles premilenistas que, sob a influência de um
dispensacionalismo divisor, alegam que a igreja é uma instituição
exclusivamente neotestamentária, que não teve existência antes do derramamento
do Espírito Santo no dia de Pentecostes e que será retirada da terra antes do
início do milênio. Eles gostam de definir a igreja como “o corpo de Cristo”,
que é um nome caracteristicamente neotestamentário, e parecem olvidar que ela é
chamada também “o templo de Deus” e “Jerusalém”, que decisivamente são nomes
que recendem ao Velho Testamento, cf. 1 Co 3.16, 17; 2 Co 6.16; Ef 2.21; Gl
4.26; Hb 12.22. Não devemos fechar os olhos para o patente fato de que o nome
“igreja” (heb. Qahal, vertido para ekklesia na Septuaginta) é repetidamente
aplicado a Israel no Velho Testamento, Js 8.35; Ed 2.65; Jl 2.16. O fato de que
em nossas versões da Bíblia a tradução do original no Velho Testamento é
geralmente feita com os termos “assembléia” e “congregação”, enquanto que no
Novo Testamento é com o vocábulo “igreja”, pode ter dado surgimento a uma
compreensão errônea deste ponto; mas permanece o fato de que, tanto no Velho
Testamento como no Novo, a palavra denota uma congregação ou assembléia do povo
de Deus, e, como tal, serve para designar a essência da igreja. Por um lado,
Jesus dizia que veria a igreja no futuro, Mt 16.18, mas também a reconheceu
como uma instituição já existente, Mt 18.17. Estevão fala da “congregação no
deserto” (ou, na versão utilizada pelo Autor, da “igreja no deserto”), At 7.38.
E Paulo testifica claramente a unidade espiritual entre Israel e a igreja em Rm
11.17-21 e em Ef 2.11-16. Na essência, Israel constituiu a igreja de Deus no
Velho Testamento, apesar de sua instituição externa diferir amplamente da
instituição da igreja do Novo Testamento.
F. Os Atributos da Igreja.
Segundo os protestantes, os
atributos são atribuídos primariamente à igreja considerada como um organismo
invisível, e só secundariamente como instituição externa. Todavia, os católicos
romanos os atribuem à sua organização hierárquica. Aqueles falam em três
atributos, mas estes acrescentam um quarto.
1. A UNIDADE DA IGREJA.
a. Concepção
católica Romana. Comumente, os católicos romanos reconhecem como igreja
apenas a ecclesia organizada hierarquicamente. A unidade desta igreja se
manifesta em sua impotente organização mundial, que visa a incluir a igreja de
todas as nações. Seu centro real não se acha nos crentes, mas na hierarquia com
seus círculos concêntricos. Há primeiramente o largo círculo do clero de nível
mais baixo, os sacerdotes e os demais funcionários inferiores; depois o círculo
menor dos bispos; em seguida o círculo mais restrito ainda dos arcebispos; e,
finalmente, o círculo mais restrito de todos, dos cardeais – sendo que a
pirâmide completa é encimada pelo papa, o chefe visível da organização toda,
que tem domínio absoluto sobre todos os que estão sob ele. Dessa maneira, a
igreja Católica Romana apresenta aos olhos uma estrutura grandiosa.
b. Concepção
protestante. Os protestantes asseveram que a unidade da igreja não é
primariamente de caráter externo, mas, sim, de caráter interno e espiritual. É
a unidade do corpo místico de Jesus Cristo, do qual todos os crentes são membros.
Este corpo é dirigido por uma Cabeça, Jesus Cristo, que é também o Rei da
igreja, e é vivificado por um só Espírito, p Espírito de Cristo. Esta unidade
implica que todos os que pertencem à igreja participam da mesma fé, são
solidamente interligados pelo comum laço do amor, e têm a mesma perspectiva
gloriosa do futuro. Relativamente falando, esta unidade interior busca e também
adquire expressão na profissão e conduta cristã dos crentes, em sua pública
adoração do mesmo Deus em Cristo, e em sua participação nos mesmos sacramentos.
Não pode haver dúvida quanto ao fato de que a Bíblia afirma a unidade, não só
da igreja invisível, mas também da visível. A figura do corpo, como se acha em
1 Co 12.12-31, implica esta unidade. Além disso, em Ef 4.4-16, onde Paulo
ressalta a unidade da igreja, evidentemente ele também tem em mente a igreja
visível, pois fala de oficiais da igreja e dos seus esforços pela unidade ideal
da igreja. Em vista da unidade da igreja, uma igreja local foi admoestada a
suprir as necessidades doutra, e o concílio de Jerusalém se encarregou da
solução de um problema que surgira em Antioquia. A igreja de Roma
dava forte ênfase à unidade da igreja visível e a expressava em sua organização
hierárquica. E quando os Reformadores romperam em Roma, não negaram a unidade
da igreja visível, mas, antes, a sustentaram. Contudo, eles não viam o vínculo
e união na organização eclesiástica da igreja, mas na fiel pregação da Palavra
e na correta administração dos sacramentos. É esta também a posição que se vê
na Confissão Belga.[19]
Citamos dela apenas as seguintes declarações: “Cremos e professamos uma só
igreja católica ou universal, que é santa congregação dos crentes verdadeiros,
todos aguardando a sua salvação em Jesus Cristo, sendo lavados
pelo Seu sangue, santificados e selados pelo Espírito Santo”.[20]
Os sinais pelos quais se conhece a verdadeira igreja são estes: “Se a sã
doutrina do Evangelho é pregada nela; se ela mantém a sã administração dos
sacramentos como estes foram instituídos por Cristo; se a disciplina da igreja
é exercida na punição do pecado; em suma, se todas as coisas são conduzidas de
acordo com a santa Palavra de Deus, todas as coisas contrárias a ela
rejeitadas,e Jesus Cristo reconhecido como o único Chefe da igreja. Por meio
disso se pode conhecer certamente a igreja verdadeira, da qual ninguém tem
direito de separar-se”.[21]
A unidade da igreja visível foi ensinada também pelos teólogos reformados
(calvinistas) do período da pós-Reforma, e sempre foi vigorosamente salientada
na teologia escocesa. Walker diz até: “As verdadeiras igrejas de Cristo, com
governos separados, pareciam-lhes (aos teólogos escoceses) inadmissíveis, a
menos que o fossem de maneira muito limitada e por alguma razão de experiência
temporária”.[22] Na Holanda
esta doutrina foi eclipsada em anos recentes, na medida em que a multi ou
pluriformidade das igrejas recebeu ênfase em deferência aos fatos da história e
à condição vigente. Nos dias atuais ela voltou a ser salientada nalgumas
discussões correntes. Em vista das presentes divisões da igreja, é muito
natural que seja levantada a questão sobre se essas divisões não militam contra
a doutrina da unidade da igreja visível. Em resposta, pode-se dizer que algumas
divisões, como as causadas por diferenças de lugar ou de língua, são
perfeitamente compatíveis com a unidade da igreja; mas outras, como as que se
originam em perversões doutrinárias ou abusos sacramentais, realmente
prejudicam essa unidade. As primeiras resultam da direção providencial de Deus,
mas estas últimas se devem à influência do pecado: ao obscurecimento do
entendimento, ao poder do erro, ou à obstinação do homem; e, portanto, a igreja
terá que lutar pelo ideal de sobrepor-se a elas. Pode ainda surgir a questão
sobre se a igreja invisível única não deveria achar expressão numa única
organização. Dificilmente se pode dizer que a Palavra de Deus exige isso
explicitamente, e a história mostra que isso é inexeqüível e também de valor
questionável. A única tentativa feita para punir a igreja toda numa grande organização
externa, não mostrou capacidade de produzir bons resultados, mas levou ao
externalismo, ao ritualismo e ao legalismo. Ademais, a multiformidade de
igrejas, tão características do protestantismo, na medida em que resultou da
direção providencial de Deus e de modo legítimo, surgiu da maneira mais
natural, e está em completa harmonia com a lei da diferenciação, segundo a qual
um organismo em seu desenvolvimento evolui do homogêneo para o heterogêneo. É
muito possível que as riquezas inerentes ao organismo da igreja achem expressão
melhor e mais completa na presente variedade de igrejas, do que numa só
organização externa. Isto não significa, porém, que a igreja não deve lutar por
maior medida de unidade externa. O ideal sempre deverá ser dar a máxima expressão
adequada à unidade da igreja. Na época atual há um movimento forte pela união
da igreja, mas este movimento, como se desenvolveu até agora, embora
indubitavelmente brotando de motivos louváveis por parte de alguns, ainda é de
valor duvidoso. Seja qual for a união externa que se realize, terá que ser
expressão natural de uma unidade interior existente, mas o presente movimento
em parte procura fabricar uma união externa onde não se acha nenhuma unidade
interna, esquecido de que “nenhuma agregação artificial que busque unificar
disparidades naturais pode oferecer garantia contra o conflito da partes
componentes dessa agregação”. É antibíblica, na medida em que procura unidade
às custas da verdade e voga na onda do subjetivismo na religião. A menos que esse
movimento mude de cor e lute por maior unidade na verdade, não produzirá
real unidade, mas apenas uniformidade, e ainda que possa tornar a igreja mais
eficiente do ponto de vista da atividade, nada acrescentará à verdadeira
eficiência espiritual da igreja. Barth toca na tecla certa quando diz: “A busca
da unidade da igreja deve, de fato, ser idêntica à busca de Jesus Cristo como a
concreta Cabeça e Senhor da igreja. A bênção da unidade não pode estar separada
daquele que abençoa; nele ela tem a sua origem e realidade; por meio da Sua
Palavra e do Seu Espírito é-nos revelada; e somente na fé ela pode tornar-se
uma realidade entre nós”.[23]
2. A SANTIDADE DA IGREJA.
a. Concepção
católica Romana. A concepção católica romana da santidade da igreja também
é primariamente de caráter externo. Não é a santidade interna dos membros da
igreja pela obra santificadora do Espírito Santo, mas a santidade cerimonial
exterior é que é posta em primeiro plano. De acorde com o padre Devine, a
igreja é santa acima de tudo “em seus dogmas, em seus preceitos morais, em seu
culto e em sua disciplina”, em que “tudo é puro e irrepreensível, tudo é de
natureza tal que é planejado para afastar o mal e a iniqüidade, e para remover
a mais exaltada virtude”.[24]
Só secundariamente a santidade da igreja é concebida como moral. Diz o padre
Deharbe que a igreja também é santa “porque houve nela, em todos os tempos,
santos cuja santidade Deus também confiou com milagres e graças
extraordinárias”.[25]
b. Concepção
protestante. Os protestantes, porém, têm uma concepção completamente
diversa da santidade da igreja. Eles sustentam que a igreja é absolutamente
santa num sentido objetivo, isto é, como ela é considerada em Jesus Cristo. Em virtude da
justificação mediatária de Cristo, a igreja é tida por santa perante Deus.
Também, num sentido relativo, os protestantes consideram a igreja como
subjetivamente santa, isto é, como realmente santa no princípio interior da sua
vida, e destinada a santidade perfeita. Daí, ela de fato pode ser denominada
comunidade de santos. Esta santidade é, acima de tudo, uma santidade do homem
interior, mas uma santidade que também acha expressão na vida externa.
Conseqüentemente, a santidade é atribuída também, secundariamente, à igreja
visível. Essa igreja é santa no sentido de que é separada do mundo na sua
consagração a Deus, e também no sentido ético de colimar e em princípio
realizar um santo relacionamento com Cristo. Desde que as igrejas visíveis
locais se compõem de crentes e sua semente, pressupõe-se que delas estão excluídos
todos os descrentes e todas as pessoas ímpias. Paulo não hesita em dirigir-se
ás igrejas como igrejas de santos.
3. A CATOLICIDADE DA IGREJA.
a. Concepção
católica Romana.A Igreja Católica Romana se apropria do atributo de
catolicidade, como se somente ela tivesse o direito de chamar-se católica. Como
o faz com os outros atributos da igreja, ela o aplica à organização visível.
Ela reivindica o direito de ser considerada como a única igreja realmente
católica, porque está espalhada pela terra toda e se adapta a todos os países e
a todas as formas de governo; porque existe desde o princípio e sempre teve
súditos e filhos fiéis, enquanto que as seitas vêm e passam; porque tem posse
da plenitude da verdade e da graça, destinadas a serem distribuídas entre os
homens; e porque sobrepuja em número de membros a todas as seitas dissidentes
juntas.
b. Concepção
protestante. Os protestantes, mais uma vez, aplicam este atributo
primariamente à igreja invisível, que pode ser chamada católica num sentido
muito mais verdadeiro que quaisquer organizações existentes, a Igreja Católica
Romana inclusive. Com justiça reagem contra a arrogância dos católicos romanos
em sua apropriação deste atributo para a sua organização hierárquica, com a
exclusão de todas as demais igrejas. Os protestantes insistem em que a igreja
invisível é primordialmente a real igreja católica, porque inclui todos os
crentes da terra, de toda e qualquer época particular, sem nenhuma exceção;
porque, conseqüentemente, ela também tem os seus membros entre todas as nações
evangelizadas do mundo; e porque exerce uma influencia controladora sobre a
vida inteira do homem, em todas as suas fases. Secundariamente, eles também
atribuem o atributo de catolicidade à igreja visível. Em nossa discussão da
unidade da igreja visível, já ficou patente que os Reformadores e as confissões
reformadas (calvinistas) expressaram sua fé numa igreja católica visível, e
esta opinião tem sido reiterada por teólogos holandeses, escoceses e americanos
até à época atual, embora em anos recentes alguns na Holanda tenham expressado
dúvida acerca desta doutrina. Deve-se admitir que esta doutrina apresenta
muitos problemas difíceis que ainda clamam por solução. Não é fácil indicar com
precisão onde se acha esta igreja católica visível. Ademais, surgem questões
como as seguintes: (1) Esta doutrina leva consigo uma vasta condenação do
denominacionalismo, como parece pensar o doutor Henry Van Dyke? (2) Significará
ela que alguma denominação, e só essa, é a igreja verdadeira, enquanto
que todas as outras são falsas, ou será melhor distinguir entre as
igrejas de formação mais pura ou menos pura? (3) Em que ponto uma igreja local
ou uma denominação deixa de ser parte integrante da igreja visível? (4) Uma
única instituição ou organização externa é essencial para a unidade da igreja
visível, ou não?
G. As Marcas da Igreja
1. AS MARCAS DA
IGREJA EM GERAL.
a. A necessidade
destas marcas. Sentia-se pouca necessidade destas marcas quando a igreja
era claramente uma só. Mas, quando surgiram as heresias, tornou-se necessário
indicar certas mudanças pelas quais se pudesse reconhecer a igreja verdadeira.
A consciência desta necessidade já estava presente na Igreja Primitiva, foi
naturalmente menos perceptível na Idade Média, e se tornou muito forte no tempo
da Reforma. Nesse tempo, a única igreja existente não só foi dividida em duas
grandes partes, mas o próprio protestantismo se dividiu em diversas igrejas e
seitas.* Resultou que se sentiu crescentemente
que era necessário indicar algumas marcas pelas quais se pudesse distinguir a
igreja verdadeira da falsa. O próprio fato da Reforma prova que os
Reformadores, sem negarem que Deus sustenta a Sua igreja, ficaram intensamente
conscientes do fato de que uma incorporação empírica da igreja pode estar
sujeita a erro, pode extraviar-se da verdade e pode degenerar totalmente. Eles
pressupunham a existência de um padrão da verdade ao qual a igreja deve
corresponder, e reconheciam esse padrão na Palavra de Deus.
b. As marcas da
igreja na teologia reformada. Os teólogos reformados (calvinistas)
divergiam quanto ao numero das marcas da igreja. Alguns falavam apenas de uma,
a pregação da sã doutrina do Evangelho (Beza, Alsted, Amesius, Heidanus,
Maresius); outros, de duas, a sã pregação da Palavra e a correta ministração
dos sacramentos (Calvino, Bullinger, Zanchius, Junius, Gomarus, Mastricht, a
Marck) e ainda outros acrescentavam a estas uma terceira marca, o fiel
exercício da disciplina (Hyperius, Martyr, Ursinus, Trelcatius, Heidegger,
Wendelinus). Estas três também são mencionadas na Confissão Belga;[26]
mas, depois de fazer menção delas, a referida confissão as une formando uma só,
dizendo: “em suma, se todas as coisas são conduzidas de acordo com a santa
Palavra de Deus”. Com o transcorrer do tempo, foi feita uma distinção,
principalmente na Escócia, entre as características absolutamente necessárias
ao ser da igreja e as que são necessárias somente ao seu bem-estar. Alguns
começaram a achar que, por mais necessária que a disciplina seja para a saúde
da igreja, seria um erro dizer que uma igreja sem disciplina não é igreja.
Alguns até pensavam a mesma coisa acerca da correta ministração dos
sacramentos, dado que não se sentiam bem em por fora da igreja de Cristo os
batistas e os quacres. Vê-se o efeito disto na Confissão de Westminster, que
menciona como sendo a única coisa indispensável ao ser da igreja “a profissão
da religião verdadeira”, e fala doutras coisas, como a pureza da doutrina ou do
culto, e da disciplina como excelentes qualidades das igrejas particulares, qualidades
pelas quais se pode avaliar o grau de sua pureza.[27]
O doutor Kuyper reconhece apenas a praedicatio (pregação da Palavra) e a
administratio sacramenti (ministração dos sacramentos) como as reais
marcas da igreja, visto que somente elas são: (1) específicas, isto é, são
características da igreja e de nenhuma outra corporação; (2) instrumentos pelos
quais Deus age com a Sua graça e o Seu Espírito na igreja; e (3) elementos
formativos que entram na formação constitutiva da igreja. A disciplina acha-se também
noutros lugares, e não pode ser colocada em coordenação com estas duas.
Todavia, com isto em mente, ele não faz objeção alguma à consideração do fiel
exercício da disciplina como uma das marcas da igreja. Pois bem, não há dúvida
de que as três marcas geralmente citadas não são coordenadas entre si.
Estritamente falando, pode-se dizer que a fiel pregação da Palavra e seu
reconhecimento como padrão de doutrina e vida [ou seja, de fé e prática], é a
marca por excelência da igreja. Sem ela não há igreja, e ela determina a reta
administração dos sacramentos e o fiel exercício da disciplina da igreja. Não
obstante, a reta administração dos sacramentos também é uma verdadeira marca da
igreja. E embora o exercício da disciplina não seja peculiar à igreja, isto é,
não seja encontrado exclusivamente nela, é, contudo, absolutamente essencial
para a pureza da igreja.
2. AS MARCAS DA
IGREJA EM PARTICULAR.
a. A fiel
pregação da Palavra. Esta é a mais importante marca da igreja. Enquanto que
esta independe dos sacramentos, estes não são independentes dela. A fiel
pregação da Palavra é o grande meio para a manutenção da igreja e para
habilita-la a ser a mãe dos fiéis. Que esta é uma das características da igreja
transparece em passagens como Jo 8.31, 32, 47; 14.23; 1 Jo 4.1-3; 2 Jo 9.
Atribuir esta marca à igreja não significa que a pregação da Palavra na igreja
terá que ser perfeita para que ela possa ser considerada co como igreja
verdadeira. Tal ideal é inatingível na terra; só se pode atribuir à igreja uma
relativa pureza de doutrina. Uma igreja pode ser relativamente impura em sua
apresentação da verdade, sem deixar de ser uma igreja verdadeira. Mas há um
limite além do qual a igreja não pode ir, na apresentação errônea da verdade ou
em sua negação, sem perder o seu verdadeiro caráter e tornar-se uma igreja
falsa. É o que acontece quando artigos fundamentais de fé são negados
publicamente, e a doutrina e a vida já não estão sob o domínio da Palavra de
Deus.
b. A correta
ministração dos sacramentos. Jamais se deve separar os sacramentos da
Palavra, pois eles não têm conteúdo próprio, mas extraem o seu conteúdo da
Palavra de Deus; são de fato uma pregação visível da Palavra. Nesta qualidade,
eles devem ser ministrados por legítimos ministros da Palavra, de acordo com a instituição
divina, e somente a participantes devidamente qualificados – os crentes e sua
semente. Uma negação das verdades centrais do Evangelho, naturalmente afetará a
adequada ministração dos sacramentos; e, certamente, a igreja de Roma se afasta
do modo correto quando separa da Palavra de Deus os sacramentos,
atribuindo-lhes uma espécie de eficácia mágica, e quando permite que as
parteiras ministrem o batismo, em ocasiões de necessidade. Que a reta
administração dos sacramentos é uma característica da igreja verdadeira,
segue-se da sua inseparável conexão com a pregação da Palavra e de passagens
como Mt 28.19; Mc 16.15, 16; At 2.42; 1 Co 11.23-30.
c. O fiel
exercício de disciplina. É deveras essencial para a manutenção da pureza da
doutrina e para salvaguardar a santidade dos sacramentos. As igrejas que
relaxarem na disciplina, descobrirão mais cedo ou mais tarde em sua esfera de
influência um eclipse da luz da verdade e abusos nas coisas santas. Daí, a
igreja que quiser permanecer fiel ao seu ideal, na medida em que isto é
possível na terra, deverá ser diligente e conscienciosa no exercício da
disciplina cristã. A Palavra de Deus insiste na adequada disciplina a ser
exercida na igreja de Cristo, Mt 18.18; 1 Co 5.1-5, 13; 14.33, 40; Ap 2.14, 15,
20.
BIBLIOGRAFIA PARA
CONSULTA: Bavinck, Geref. Dogm. IV, p. 295-354; Kuyper, Dict. Dogm. De Ecclesia, p. 3-267; id., Tractaat
Van de Reformatie der Kerken; ibid., E Voto II, p. 108-151; Vos, Geref.
Dogm. V, p. 1-31; Bannerman, The Church of Christ I, p. 1-67; Ten Hoor,
Afscheiding en Doleantie e Afscheiding of Doleantie; Doekes, De
Moeder der Geloovigen, p. 7-64; Steen, De Kerk, p. 30-131;
McPherson, The Doctrine of the Church in Scottish Theology, p. 54-128;
Van Dyke, The Church, Her Ministry and Sacraments, p. 1-74; Hort, The
Christian Ecclesia, principalmente p. 1-21, 107-122; Pieper, Christl.
Dogm. III, p. 458-492; Valentine, Chr. Dogm. II, p. 362-377; Pope, Chr.
Theol. III, p. 259-287; Litton, Introd. To Dogm. Theol., p. 357-378;
Strong, Syst. Theol., p. 887-894; Devine, The Creed Explained, p.
256-295; Wilmers, Handbook of the Chr. Rel., p. 102-119; Moehler, Symbolism,
p. 310-362; Schaff, Our Father’s Faith and Ours, p. 213-239; Morris, Ecclesiology,
p. 13-41; W. A. Visser’t Hooft and J. H. Oldham, The Church and its Function
in Society.
III. O Governo da Igreja
A. Diferentes Teorias a Respeito do Governo da Igreja.
1. CONCEITO DOS
QUACRES E DOS DARBISTAS. É questão de princípio para os quacres e os darbistas
a rejeição de todo e qualquer governo eclesiástico. Segundo eles, toda formação
externa da igreja necessariamente degenera e leva a resultados que contrariam o
espírito do cristianismo, pois exalta o elemento humano em detrimento do
divino. Todo governo da igreja negligencia os carismas dados por Deus e os substitui
por ofícios instituídos pelo homem, e, conseqüentemente, oferece à igreja a
casca do conhecimento humano, em vez das comunicações vitais do Espírito
santos. Daí, eles consideram não apenas desnecessário, mas decididamente
pecaminoso organizar a igreja visível. Assim, os ofícios são abandonados, e no
culto publico cada qual segue as sugestões do Espírito. A tendência
transparente nestas seitas, tendência que patenteia o fermento do misticismo,
deve ser considerada como uma reação contra a organização hierárquica e o
formalismo da igreja estabelecida da Inglaterra. Nos Estados Unidos, alguns do
quacres ordenam ministros regularmente e dirigem seu culto de maneira muito
parecida com a das outras igrejas.
2. O SISTEMA
ERASTIANO, CUJO NOME VEM DE ERASTO, 1524-1583. Os erastianos consideram a
igreja como uma sociedade que deve sua existência e sua forma às
regulamentações promulgadas pelo estado. Os oficiais da igreja são meros
instrutores ou pregadores da Palavra, sem nenhum direito ou poder de governar, exceto
o que eles derivam dos magistrados civis. É função do estado governar a igreja,
exercer a disciplina e aplicar a excomunhão. As censuras eclesiásticas são
punições civis, embora a sua aplicação possa ser confiada aos legítimos
oficiais da igreja. Este sistema tem sido aplicado diversamente na Inglaterra,
na Escócia e na Alemanha (igrejas luteranas). Ele entra em conflito com o
princípio fundamental da Chefia de Jesus Cristo, e não reconhece o fato de que
a igreja e o estado são distintos e independentes em sua origem, em seus
objetos primordiais, no poder que exercem e na administração desse poder.
3. O SISTEMA
EPISCOPAL. Os episcopais afirmam que Cristo, como Chefe da igreja, confiou o
governo da igreja direta e exclusivamente a uma ordem de prelados ou bispos,
considerados estes como sucessores dos apóstolos; e que Ele constituiu estes
bispos numa ordem separada, independente e capacitada para perpetuar-se. Neste
sistema, o coetus fidelium, ou seja, a comunidade dos crentes, não tem
absolutamente nenhuma participação no governo da igreja. Nos primeiros séculos
[de sua história], era este o sistema da Igreja Católica Romana. Na Inglaterra,
foi feito uma combinação dele com o sistema erastiano. Mas a Bíblia não oferece
base para a existência de tal classe separada de oficiais superiores, dotados
do direito inerente de ordenação e jurisdição, e que, portanto, não representam
o povo e nem tampouco, em nenhum sentido da expressão, derivam do povo o seu
ofício. A Escritura mostra claramente que o ofício apostólico não era de
natureza permanente. Os apóstolos compunham uma classe claramente distinta e
independente, mas a sua tarefa especial não era a de governar e administrar os
assuntos das igrejas. Era seu dever levar o Evangelho às regiões não
evangelizadas, fundar igrejas, e, então, designar dentre o povo outras pessoas
para a tarefa de governar essas igrejas. Antes do final do primeiro século, o
apostolado já tinha desaparecido inteiramente.
4. O SISTEMA
CATÓLICO ROMANO. Este é o sistema episcopal levado à sua conclusão lógica. O
sistema católico romano tem a pretensão de abranger, não somente os sucessores
dos apóstolos, mas também os sucessores de Pedro, que, segundo dizem, teve o
primado entre os apóstolos e cujo sucessor é agora tido como representante especial
de Cristo. A igreja de Roma é da natureza de uma monarquia absoluta, sob o
domínio de um papa infalível, que tem o direito de determinar e regulamentar a
doutrina, o culto e o governo da igreja. Abaixo dele há classes e ordens
inferiores às quais é dada uma graça especial e cujo dever é governar a igreja
com a obrigação de prestar rigorosas contas aos seus superiores e ao sumo
pontífice. O povo não tem absolutamente nenhuma voz no governo da igreja. Este
sistema também conflita com a Escritura, que não reconhece nenhum primado de
Pedro como aquele sobre o qual o sistema em foco é edificado, e reconhece
definidamente a voz do povo nas questões eclesiásticas. Além disso, a alegação
da Igreja Católica Romana, de que há uma linha ininterrupta de sucessão desde o
tempo de Pedro até os dias atuais, é contraditada pela história. O sistema
papal é insustentável, tanto exegética como historicamente.
5. O SISTEMA
CONGREGACIONAL. Também chamado sistema de independência. Segundo ele, cada
igreja ou congregação é uma igreja completa, independente de todas as demais.
Nesse tipo de igreja o poder de governo fica exclusivamente com os membros da
igreja, que têm autoridade para regulamentar os seus próprios assuntos. Os
oficiais são simples funcionários da igreja local, designados para ensinarem e
para administrarem os interesses da igreja, e não têm poder de governo além do
que possuem como membros da igreja. Se se achar conveniente que as diversas
igrejas exerçam comunhão umas com as outras, como às vezes se dá, esta comunhão
se expressa em concílios ou convenções eclesiásticos e em reuniões ou
conferências locais ou regionais, para a consideração dos seus interesses
comuns. Mas é determinado que os atos desses corpos associados sejam
estritamente consultivos ou declarativos, e não sejam impostos a nenhuma igreja
particular. Esta teoria de governo popular, que torna o ofício do ministério
totalmente dependente da ação do povo, certamente não está em harmonia com o
que aprendemos da Palavra de Deus. Além disso, a teoria de que cada igreja é
independente de qualquer outra igreja, não expressa a unidade da igreja de
Cristo, tem efeito desintegrador e abre as portas para toda sorte de
arbitrariedade no governo da igreja. Não há para onde apelar de quaisquer
decisões da igreja local.
6. O SISTEMA DA
IGREJA NACIONAL. Este sistema, também denominado sistema colegial (que superou
o sistema territorial), foi desenvolvido na Alemanha, principalmente por C. M.
Pfaff (1686-1780), e mais tarde foi introduzido na Holanda. Ele parte do
pressuposto de que a igreja é uma associação voluntária, igual ao estado. As
igrejas ou congregações separadas são meras subdivisões da igreja nacional
única. O poder original reside numa organização nacional, e esta organização
tem jurisdição sobre as igrejas locais. Este sistema é justamente o inverso do
sistema presbiteriano, segundo o qual o poder original tem sua sede no conselho
ou consistório. O sistema territorial reconhecia o direito inerente ao
estado de reformar o culto público, resolver contendas sobre doutrina e
conduta, e convocar sínodos, ao passo que o sistema colegial atribui ao estado
unicamente o direito de supervisão como direito inerente, e considera
todos os outros direitos, que o estado poderia exercer em questões da igreja,
como direitos que a igreja, por um entendimento tácito ou por um pacto formal,
conferiria ao estado. Este sistema desconsidera completamente a autonomia das
igrejas locais, ignora os princípios de governo e de direta responsabilidade
para com Cristo, gera formalismo e confina uma igreja professadamente
espiritual dentro dos limites e geográficos. Um sistema como este, semelhante
que é ao sistema erastiano, naturalmente se adapta melhor à idéia atual do
estado totalitário.
B. Os Princípios Fundamentais do Sistema Reformado ou Presbiteriano.
As igrejas
reformadas (calvinistas) não têm a pretensão de que o seu sistema de governo
seja determinado, em todas as minúcias, pela Palavra de Deus, mas asseveram que
os seus princípios fundamentais são derivados diretamente da Escritura. Elas
não se arrogam um jus divinum (direito divino) quanto aos pormenores,
mas unicamente quanto aos princípios gerais e fundamentais do sistema, e estão
mui dispostas a admitir que muitas das suas particularidades são determinadas
pela utilidade e pela sabedoria humana. Decorre disto que, enquanto que a
estrutura geral deve ser mantida rigidamente, alguns pormenores podem ser
mudados, conforme a maneira eclesiástica própria, por razões de prudência, como
o proveito geral das igrejas. Os seus princípios mais fundamentais são os
seguintes:
1. CRISTO É O CHEFE
E CABEÇA DA IGREJA E A FONTE DE TODA A SUA AUTORIDADE. A igreja de Roma
considera da maior importância afirmar a chefia do papa sobre a igreja. Os
Reformadores sustentavam e defendiam a posição, antagonicamente às pretensões
do papado, segundo a qual Cristo é o único Chefe da igreja. Contudo, eles não
evitaram inteiramente o perigo de reconhecer, uns mais, outros menos, a
supremacia do estado sobre a igreja. Conseqüentemente, as igrejas presbiterianas
e reformadas tiveram que librar outra batalha posterior, a batalha prol da
chefia de Jesus em oposição às infundadas intrusões do estado. Esta batalha foi
empreendida primeiramente na Escócia e, mais tarde, também na Holanda. O
próprio fato de que a peleja foi contra poderes externos tais como o papado e o
estado ou o rei, ambos os quais alegavam ser o chefe visível da igreja,
claramente implica que aqueles que estavam empenhados nesta batalha estavam
particularmente interessados em estabelecer e manter a posição de que Cristo é
o único Chefe visível da igreja, e, portanto, o único e supremo Legislador e
Rei da Igreja. Naturalmente, eles também reconheciam a Cristo como a Cabeça orgânica
da igreja invisível. Eles compreendiam que as duas não podem separar-se,
mas, desde que o papa e o rei dificilmente poderiam arrogar-se a posição de
cabeça orgânica da igreja invisível, realmente não era este o ponto em questão. A respeito dos mestres escoceses, diz
Walker: “Eles queriam dizer que Cristo é o verdadeiro Rei e Cabeça da igreja,
considerada como organização visível, governando-a por meio dos Seus estatutos,
ordenanças, oficiais e poderes, tão real e literalmente como Davi e Salomão
governaram o povo da aliança na antiguidade”.[28]
A Bíblia nos ensina que Cristo é o Chefe de todas as coisas: Ele é o Senhor do
universo, não simplesmente como a segunda pessoa da Trindade, mas em sua
capacidade mediatária, Mt 28.18; Ef 1.20-22; Fp 2.10, 11; Ap 17.14; 19.16. Num
sentido muito especial, porém, Ele á a Cabeça*
da igreja, que é o Seu corpo. Ele mantém relação viva e orgânica com ela,
enche-a de vida e a governa espiritualmente, Jo 15.1-8; Ef 1.10, 22, 23;
2.20-22; 4.15; 5.30; Cl 1.18; 2.19; 3.11. Os premilenistas alegam que este é o
único sentido em que Cristo é a Cabeça da
igreja, pois negam exatamente o ponto pelo qual os nossos pais reformados
(calvinistas) pelejaram, a saber, que Cristo é o Rei da igreja. No
sentido orgânico e vital, Ele é primordialmente, embora não de modo exclusivo,
a Cabeça da igreja invisível, que constitui o Seu corpo espiritual. Mas Ele é
também a Cabeça da igreja visível, não somente no sentido orgânico, mas também
no sentido de que Ele tem autoridade sobre ela e a governa, Mt 16.18, 19; 23.8,
10; Jo 13.13; 1 Co 12.5; Ef 1.10-23; 4.4, 5, 11, 12; 5.23, 24. Esta chefia de
Cristo sobre a igreja visível é a parte do domínio entregue a Ele como
resultado dos Seus sofrimentos. Sua autoridade se manifesta nos seguintes
pontos: (a) Ele instituiu a igreja do Novo Testamento, Mt 16.18, de maneira que
esta não é, como também a consideram hoje em dia, uma simples sociedade
voluntária, cuja única base é o consenso dos membros. (b) Ele instituiu os
meios de graça que a igreja deve administrar, a saber, a Palavra e os
sacramentos, Mt 28.19, 20; Mc 16.15, 16; Lc 22.17-20; 1 Co 11.23-29. Nestas
questões, ninguém mais tem o direito de legislar. (c) Ele deu à igreja a sua
estrutura e os seus oficiais, e revestiu a estes de autoridade divina, para que
pudessem falar e agir em Seu nome, Mt 10.1; 16.19; Jo 20.21-23; Ef 4.11, 12.
(d) Ele sempre está presente na igreja quando esta se reúne para o culto, e
fala e age por meio dos seus oficiais. É Cristo como Rei que lhes possibilita
falar e agir com autoridade, Mt. 10.40; 2 Co 13.3.
2. CRISTO EXERCE A
SUA AUTORIDADE POR INTERMÉDIO DA SUA PALAVRA REAL. O reinado de Cristo não é
similar ao dos reis terrenos em todos os aspectos. Ele não governa a igreja
pela força, mas, sim, subjetivamente, por Seu Espírito, que age na
igreja, e objetivamente, pela Palavra de Deus como o padrão de
autoridade. Todos os crentes estão incondicionalmente obrigados a obedecer à
palavra do Rei. Como Cristo é o único Governador soberano da igreja, a Sua
palavra é a única que é lei no sentido absoluto. Conseqüentemente, todo poder
despótico na igreja é contrabando. Não existe poder de governar independente de
Cristo. O papa de Roma está sob condenação em que ele, conquanto se declare
vigário de Cristo na terra, virtualmente se põe acima de Cristo e invalida a
palavra de Cristo com inovações humanas. Ele não somente coloca a tradição no
mesmo nível da Escritura, mas também se proclama intérprete infalível de ambas,
quando fala ex cathedra (de cadeira) em matéria de fé e
moralidade. A Escritura e a tradição podem ser as regras de fé mediatas ou
remotas, ao passo que a regra imediata é o ensino da igreja, que tem sua
garantia na infalibilidade papal.[29]
A palavra do papa é a palavra de Deus. Mas a verdade é que, embora seja um fato
que Cristo exerce a Sua autoridade na igreja por intermédio dos oficiais, não
se deve entender isto no sentido que Ele transfere Sua autoridade a Seus
servos. Ele mesmo governa a igreja através de todos os séculos mas, ao fazê-lo,
utiliza os oficiais da igreja como Seus órgãos. Estes não têm poder absoluto ou
independente, mas unicamente um poder derivado e ministerial.
3. COMO REI, CRISTO
REVESTIU A IGREJA DE PODER. Levanta-se neste ponto uma questão delicada, a
saber, Quem são os primeiros e legítimos agentes do poder da igreja? A quem
Cristo delegou em primeira instância este poder? Os católicos romanos e os
episcopais respondem: Aos oficiais, entendidos como uma classe separada, em
contra-distinção dos membros comuns da igreja. Alguns eminentes teólogos
presbiterianos, como Rutherford e Baillie, também defenderam este conceito. Diametralmente
oposta a isto é a teoria dos independentes (igrejas livres), de que a igreja em
geral é investida deste poder, sendo os oficiais meros órgãos do corpo global.
O grande teólogo puritano Owen adota esta idéia com algumas modificações. Em
anos recentes, alguns teólogos reformados (calvinistas) aparentemente apoiaram
este conceito, embora sem subscrever o separatismo dos independentes.
Há, porém, outro
modo de ver, que representa um meio termo entre estes dois extremos, que nos
parece merecer preferência. De acordo com este conceito, o poder eclesiástico é
delegado por Cristo à igreja como um todo, isto é, aos membros comuns e aos
oficiais, igualmente, mas, em acréscimo, os oficiais recebem uma porção
adicional de poder, como se requer para o cumprimento dos seus respectivos
deveres na igreja de Cristo. Participam do poder original concedido à igreja e
recebem sua autoridade e poder como oficiais diretamente de Cristo. São
representantes do povo, não, porém, meros deputados ou delegados. Os teólogos
mais antigos diziam com freqüência: “Todo o poder da igreja está, actu primo,
ou fundamentalmente, na própria igreja; actus secundo, ou em seu
exercício, naqueles que são especialmente chamados para isso”. É este,
substancialmente, o conceito defendido por Voetius, Gillespie (em sua obra
sobre Cerimônias), Bannerman, Porteous e Vos.
4. CRISTO
PROVIDENCIOU ÓRGÃOS REPRESENTATIVOS PARA O EXERCÍCIO ESPECÍFICO DESTE PODER.
Enquanto que Cristo delegou poder à igreja como um todo, também providenciou
para que este poder fosse exercido ordinária e especificamente por órgãos
representativos, separados para a manutenção da doutrina, do culto e da
disciplina. Os oficiais da igreja são os representantes do povo, escolhidos por
voto popular. Isto não significa porém, que eles recebem a sua autoridade do
povo, pois o chamamento do povo á apenas a confirmação do chamamento interior
feito pelo Senhor; e é do Senhor que eles recebem a sua autoridade e a Ele são
responsáveis. Quando são chamados representantes, é meramente uma indicação do
fato de que eles foram escolhidos pelo povo para o seu ofício, e não implica
que derivam dele a sua autoridade. Daí, eles não são deputados ou instrumentos,
servindo apenas para levar a cabo os desejos do povo, mas governantes cujo
dever é apreender e aplicar as leis de Cristo. Ao mesmo tempo, têm o dever de
reconhecer o poder do qual a igreja como um todo foi investida, procurando o
seu assentimento ou o seu consentimento nas questões importantes.
5. O PODER DA
IGREJA RESIDE PRIMARIAMENTE NO CORPO GOVERNANTE LOCAL. Um dos princípios
fundamentais do governo reformado ou presbiteriano é que o poder ou autoridade
da igreja não reside antes de tudo na assembléia mais geral de alguma igreja. E
só secundariamente e por derivação dessa assembléia, confiado ao corpo
governante da igreja local; mas, sim, que tem sua sede original no consistório
ou sessão ou conselho da igreja local e por este é transferido para as
assembléias maiores, como classes ou presbitérios e sínodos ou assembléias
gerais.* Assim, o sistema reformado ou
presbiteriano honra a autonomia da igreja local, apesar de sempre considerá-la
sujeita às limitações que lhe podem sobrevir como resultado de sua associação
com outras igrejas, formando uma denominação, e lhe assegura o mais completo
direito de governar os seus interesses internos por meio dos seus oficiais. Ao
mesmo tempo, mantém o direito e dever da igreja local de unir-se a outras
igrejas similares sobre uma base confessional comum, e de formar uma
organização mais ampla com propósitos doutrinários, judiciais e
administrativos, com a adequada estipulação de mútuas obrigações e direitos.
Essa organização mais ampla impõe, sem dúvida, certas limitações à autonomia
das igrejas locais, mas também promove o crescimento e o bem-estar das igrejas,
garante os direitos dos membros da igreja e serve para dar mais plena expressão
à unidade da igreja.
C. Os Oficiais da Igreja.
Podemos distinguir
diferentes classes de oficiais na igreja. Uma distinção muito geral é de
oficiais ordinários e extraordinários.
1. OFICIAIS
EXTRAORDINÁRIOS.
a. Apóstolos.
Estritamente falando, este nome só é aplicável aos doze escolhidos por Jesus e
a Paulo; mas também se aplica a certos homens apostólicos que assessoram a
Paulo em seu trabalho e que foram dotados de dons e graças apostólicas, At
14.4, 14; 1 Co 9.5, 6; 2 Co 8.23; Gl 1.19 (?).**
Os apóstolos tinham a incumbência especial de lançar os alicerces da igreja de
todos os séculos. Somente através da sua palavra é que os crentes de todas as
eras subseqüentes têm comunhão com Jesus Cristo. Daí, eles são os apóstolos da
igreja dos dias atuais, como também o foram da Igreja Primitiva. Eles tinham
certas qualificações especiais. (a) Foram comissionados diretamente por Deus ou
por Jesus Cristo, Mc 3.14; Lc 6.13; Gl 1.1; (b) eram testemunhas da vida de
Cristo e, principalmente, de Sua ressurreição, Jo 15.27; At 1.21, 22; 1 Co 9.1;
(c) estavam cônscios de serem inspirados pelo Espírito de Deus em todo o seu
ensino, oral e escrito, At 15.28; 1 Co 2.13; 1 Ts 4.8; 1 Jo 5.9-12; (d) tinham
o poder de realizar milagres e o usaram em diversas ocasiões para ratificar a
sua mensagem, 2 Co 12.12; Hb 2.4; e (e) foram ricamente abençoados em sua obra,
como sinal de que Deus aprovava os seus labores, 1 Co 9.1, 2; 2 Co 3.2, 3; Gl
2.8.
b. Profetas.
O Novo Testamento fala também de profetas, At 11.28; 13.1, 2; 15.32; 1 Co
12.10; 13.2; 14.3; Ef 2.20; 3.5; 4.11; 1 Tm 1.18; 4.14; Ap 11.6. Evidentemente
o dom de falar para a edificação da igreja era altamente desenvolvido nestes
profetas, e ocasionalmente eles serviam de instrumentos para a revelação de
mistérios e para a predição de eventos futuros. Aquela parte deste dom
(profecias) é permanente na igreja cristã, e foi definidamente reconhecido
pelas igrejas reformadas (calvinistas), mas esta última parte era de caráter
carismático e temporário. Os profetas diferiam dos ministros comuns no sentido
de que eles falavam sob inspiração especial.
c. Evangelistas.
Em acréscimo a apóstolos e profetas, são mencionados evangelistas na Bíblia, At
21.8; Ef 4.11; 2 Tm 4.5. Filipe, Marcos, Timóteo e Tito pertenciam a esta
classe. Pouco se sabe destes evangelistas. Eles acompanhavam e assistiam os
apóstolos, e às vezes eram enviados por estes em missões especiais. Seu
trabalho era pregar e batizar, mas incluía também a ordenação de presbíteros,
Tt 1.5; 1 Tm 5.22, e o exercício da disciplina, Tt 3.10. Ao que parece, sua
obra era mais geral e algo superior à dos ministros regulares.
2. OFICIAIS
ORDINÁRIOS.
a. Presbíteros. Dentre
os oficiais comuns da igreja, os presbyteroi (presbíteros) ou episkopoi
(bispos) são os primeiros, na ordem de importância. O primeiro nome significa
simplesmente “anciãos”, ou “mais velhos”, e o último, “supervisores” ou
“superintendentes”. O termo presbyteroi é empregado na Escritura para
denotar homens idosos, e para designar uma classe de oficiais um tanto parecida
com a que exercia certas funções na sinagoga. Como designativo de ofício, aos
poucos o nome foi eclipsado e até sobrepujado pelo nome episkopoi. Os
dois termos são freqüentemente empregados um pelo outro, At 20.17. 28; 1 Tm
3.1; 4.14; 5.17, 19; Tt 1.5, 7; 1 Pe 5.1, 2. Os presbyteroi são
mencionados, pela primeira vez em At 11.30, mas é evidente que o ofício já era
bem conhecido quando Paulo e Barnabé foram a Jerusalém, e pode ter estado em
existência mesmo antes da instituição do diaconato. Pelo menos a expressão hoi
neoteroi (“os moços”) em Atos 5 parece indicar uma distinção entre estes e
os presbyteroi. Freqüente menção é feita a eles no Livro de Atos, 14.23;
15.6, 22; 16.4; 20.17, 28; 21.18. Provavelmente o ofício presbiteral ou
episcopal foi instituído primeiro nas igrejas dos judeus, Tg. 5.14; Hb 13.7,
17, e, então, pouco depois, também os gentios. Vários outros nomes são
aplicados a oficiais, a saber, proistemanoi (os que presidem), Rm 12.8;
1 Ts 5.12; kyberneseis (governos), 1 Co 12.28; hegoumenoi
(guias), Hb 13.7, 17, 24; e poimenas (pastores), Ef 4.11. Claramente se
vê que estes oficiais detinham a superintendência do rebanho que fora entregue
aos seus cuidados. Eles tinham que abastecê-lo, governá-lo e protegê-lo, como
sendo da própria família de Deus.
b. Mestres.
É evidente que, originalmente, os presbíteros não eram mestres. A princípio, na
havia necessidade de mestres, separadamente, uma vez que havia apóstolos, profetas
e evangelistas. Gradativamente, porém, a didaskalia (o ensino, a
docência) ligou-se mais e mais estreitamente ao ofício episcopal; mas, mesmo
então, os mestres não constituíram uma classe separada de oficiais. A
declaração de Paulo em Ef 4.11, de que o Cristo assunto também dera à igreja
“pastores e mestres”, mencionados como uma única classe, mostra claramente que
estes dois não constituem duas diferentes classes oficiais, mas uma só classe
com duas funções inter-relacionadas. 1 Tm 5.17 fala de presbíteros que
trabalhavam na palavra e no ensino, e, conforme Hb 13.7, os hegumenoi
eram igualmente mestres. Além disso, em 2 Tm 2.2 Paulo insta com Timóteo sobre
a necessidade de nomear para ofício homens fiéis e também capazes de instruir a
outros. Com o transcorrer do tempo, duas circunstâncias levaram a uma distinção
entre os presbíteros ou superintendentes encarregados somente do governo da
igreja, e os que também eram chamados para ensinar: (1) quando os apóstolos
faleceram e as heresias surgiam e aumentavam, a tarefa dos que eram chamados
para ensinar tornou-se mais exigente, requerendo preparação especial, 2 Tm 2.2;
Tt 1.9; e (2) em vista do fato de que o trabalhador é digno do seu salário, os
que estão engajados no ministério da Palavra, tarefa amplamente abrangente que
requer todo o seu tempo, foram liberados doutros trabalhos para poderem
devotar-se mais exclusivamente ao trabalho de ensinar. Com toda a
probabilidade, os aggeloi (anjos) aos quais foram dirigidas as cartas
enviadas às sete igrejas da Ásia Menor, eram os mestres ou ministros daquelas
igrejas, Ap 2.1, 8, 12, 18; 3.1, 7, 14. Nos círculos reformados (calvinistas),
os ministros agora governam as igrejas junto com os presbíteros, mas, em
acréscimo a isso, ministram a Palavra e os sacramentos. Juntos eles formulam os
regulamentos necessários para o governo da igreja.
c. Diáconos.
Além dos presbyteroi, são mencionados os diakonoi no Novo
Testamento, Fp 1.1; Tm 3.8, 10, 12. Segundo a opinião predominante, At 6.1-6
contém o registro da instituição do diaconato. Contudo, alguns estudiosos
duvidam disto, e consideram o ofício mencionado em At 6, ou como um oficio
geral em que as funções dos presbíteros e diáconos foram combinadas, ou como um
ofício meramente temporal, que atende a um propósito especial. Eles chamam a
atenção para o fato de que alguns dos sete escolhidos, como Felipe e Estevão,
evidentemente estavam engajados no ensino; e que o dinheiro coletado em
Antioquia para os pobres da Judéia foi entregue às mãos dos presbíteros. Não se
faz menção nenhuma de quaisquer diáconos em At 11.30, sendo que estes, se
existissem como classe separada, seriam os recebedores naturais daquele
dinheiro. E, todavia, com toda a probabilidade, At 6 se refere à instituição do
diaconato, pois: (1) O nome diakonoi que, antes do evento narrado em
Atos 6, era sempre empregado no sentido geral de servo ou servidor,
subseqüentemente começou a ser empregado como designativo daqueles que se
dedicavam às obras de misericórdia e caridade, e, com o tempo, veio a ser usado
exclusivamente neste sentido. A única razão que se pode atribuir a isto se acha
em Atos 6. (2) Os sete homens ali mencionados foram encarregados da tarefa de
distribuir bem as dádivas trazidas para as agapae (festas de amor
cristão), ministério que noutras partes é particularmente descrito pela palavra
diakonia, At 11.29; Rm 12.7; 2 Co 8.4; 9.1, 12, 13; Ap 2.19. (3) Os requisitos
para o ofício, como são mencionados em Atos 6, são muito exigentes, e nesse
aspecto, concordam com as exigências mencionadas em 1 Tm 3.8-10, 12. (4) Muito
pouco se pode dizer em favor da acariciada idéia de alguns críticos de que o
diaconato só foi desenvolvido mais tarde, mais ou menos na época do
aparecimento do ofício episcopal.
3. A VOCAÇÃO DOS OFICIAIS E SUA INSTALAÇÃO NO
OFÍCIO. Deve-se fazer distinção entre a vocação dos oficiais extraordinários,
tais como os apóstolos, e a dos oficiais ordinários. Aqueles foram chamados de
maneira extraordinária, com um chamamento imediato ou direto de Deus, e estes,
de maneira ordinária e mediante a instrumentalidade da igreja. Estamos
interessados mais particularmente na vocação dos oficiais ordinários.
a. Vocação dos
oficiais ordinários. É dupla:
(1) Vocação
interna. Às vezes se pensa que a vocação interna para um ofício na igreja
consiste numa indicação extraordinária de Deus do fim para o qual o indivíduo é
chamado – uma espécie de revelação especial. Mas não está certo. Consiste,
antes, em certas indicações providenciais ordinárias dadas por Deus, e inclui
principalmente três coisas: (a) a consciência de estar sendo impelido a alguma
tarefa especial do reino de Deus, por amor a Deus e Sua causa; (b) a convicção
que o indivíduo tem de que está, pelo menos em certa medida, intelectual e
espiritualmente qualificado para o ofício em vista; e (c) a experiência de que,
evidentemente, Deus está pavimentando o caminho que leva à meta.
(2) Vocação
externa. Esta é a vocação que chega à pessoa pela instrumentalidade da
igreja. Não é emitida pelo papa (conceito católico romano), nem por um bispo ou
colégio de bispos (episcopal), mas, sim, pela igreja local. Tanto os oficiais
como os membros comuns da igreja tomam parte nela. Que os oficiais têm parte em
sua direção, não, porém, com a exclusão do povo, é evidenciado por passagens
como At 1.15-26; 6.2-6; 14.23. O povo foi admitido, mesmo à escolha de um
apóstolo, segundo At 1.15-26. O que se vê é que, na era apostólica, os oficiais
guiavam a escolha que o povo fazia, chamando a atenção para as qualificações
necessárias que se exigiam para o ofício, mas deixavam o povo tomar parte na
escolha propriamente dita, At 1.15-16; 6.1-6; 1 Tm 3.2-13. Naturalmente, no
caso de Matias, Deus mesmo fez a escolha final.
b. A investidura
dos oficiais no ofício. Há principalmente dois ritos relacionados com a
investidura ou instalação.
(1) Ordenação.
Esta pressupõe a vocação e o exame do candidato ao ofício. É um ato da classe
ou presbitério (1 Tm 4.14). Diz o doutor Hodge: “A ordenação é a solene
expressão do julgamento da igreja, mediante aqueles que foram designados para
comunicar tal julgamento, de que o candidato é verdadeiramente vocacionado por
Deus para tomar parte neste ministério, com isso autenticando para o povo o
chamamento divino”.[30]
Esta autenticação é, sob todas as circunstancias ordinárias, a condição
necessária para o exercício do ofício ministerial. Pode-se lhe chamar,
resumidamente, reconhecimento e confirmação públicos da vocação do candidato
para este ofício.
(2) Imposição
das mãos. A ordenação é acompanhada pela imposição das mãos. É fato patente
que ambas andavam de mãos dadas nos tempos apostólicos, At 6.6; 13.3; 1 Tm
4.14; 5.22. Naqueles tempos primitivos, a imposição das mãos evidentemente
implicava duas coisas: Significava que uma pessoa era separada para certo
ofício, e que algum dom espiritual especial lhe era conferido. A igreja de Roma
é de opinião que estes dois elementos ainda estão incluídos na imposição das
mãos, que esta realmente confere alguma graça espiritual ao seu recebedor, e,
daí, lhe atribui significação sacramental. Os protestantes afirmam, porém, que
ela é apenas uma indicação simbólica do fato de que alguém é separado para o
ofício ministerial na igreja. Conquanto eles a considerem um rito
escriturístico, e um rito inteiramente apropriado, não a consideram
absolutamente essencial. Para a Igreja Presbiteriana, ela é facultativa.*
D. As Assembléias Eclesiásticas.
1. OS CORPOS
GOVERNANTES (TRIBUNAIS ECLESIÁSTICOS) DO SISTEMA REFORMADO (E PRESBITERIANO). O
governo das igrejas Reformada e Presbiteriana é caracterizado por um sistema de
assembléias eclesiásticas numa escala ascendente ou descendente, conforme o
ponto de vista segundo o qual é considerado. São elas o consistório (sessão,
conselho), a classe (presbitério), o(s) sínodo(s), e, nalguns casos, a
assembléia geral (o Supremo Concílio, no caso do presbiterianismo brasileiro).
O consistório ou conselho consiste do ministro (ou ministros) e os presbíteros
ou anciãos da igreja local. A classe se compõe de um ministro e de um
presbítero de cada igreja local de certa região ou distrito. Isso é um pouco
diferente, porém, na Igreja Presbiteriana, na qual o presbitério inclui todos
os ministros dentro dos seus limites, e um presbitério de cada uma das suas
igrejas. O sínodo, por sua vez, consiste de igual número de ministros e
presbíteros de cada classe.** E
finalmente, a assembléia geral (no caso dos presbiterianos) é composta de igual
delegação de ministros e presbíteros de cada um dos presbitérios, e não, como
se poderia esperar, de cada um dos sínodos particulares.
2. O GOVERNO
REPRESENTATIVO DA IGREJA LOCAL E SUA AUTONOMIA RELATIVA.
a. O governo
representativo da igreja local. As igrejas reformadas e presbiterianas
diferem, de um lado, de todas as igrejas nas quais o governo está nas mãos de
um único prelado ou de um presbítero ou ancião presidente, e, de outro lado,
daquelas nas quais o governo está com o povo em geral. Elas não acreditam em
nenhum governo de um homem só, seja este um presbítero, um pastor ou um bispo;
tampouco acreditam em governo popular. Elas elegem presbíteros regentes como
seus representantes, e estes, juntamente com o(os) ministro(s), formam um
conselho ou consistório para o governo da igreja local. Muito semelhantemente,
os apóstolos eram guiados pelo respeitado costume de se terem presbíteros na
sinagoga, e não por algum mandamento direto, quando ordenavam presbíteros nas
diversas igrejas fundadas por eles. A igreja de Jerusalém tinha presbíteros, At
11.10. Paulo e Barnabé os ordenaram nas igrejas que organizaram durante a sua
primeira viagem missionária, At 14.23. Evidentemente, havia presbíteros em ação
em Éfeso, At 20.17, e em Filipos, Fp 1.1. As epístolas pastorais repetidamente
fazem menção deles, 1 Tm 3.1, 2; Tt 1.5, 7. Merece atenção o fato de sempre
serem mencionados no plural, 1 Co 12.28; 1 Tm 5.17; Hb 13.7, 17, 24; 1 Pe 5.1.
Os presbíteros são escolhidos pelo povo como homens especialmente qualificados
para governar a igreja. É evidente intenção da Escritura que o povo sempre
tenha voz nas questões da seleção deles, embora não fosse assim na sinagoga
judaica, At 1.21-26; 6.1-6; 14.23. Nesta última passagem, porém, a palavra cheirotoneo
pode ter perdido o seu sentido original de designar estendendo a mão, e pode
significar simplesmente designar. Ao mesmo tempo, é mais que evidente que o
Senhor mesmo coloca estes governantes sobre o povo e os reveste da necessária
autoridade, Mt 16.19; Jo 20.22, 23; At 1.24, 26; 20.28; 1 Co 12.28; Ef 4.11,
12; Hb 13.17. A eleição feita pelo povo é apenas uma confirmação externa da
vocação interna feita pelo Senhor. Além disso, os presbíteros, embora
representantes do povo, não derivam sua autoridade do povo, mas do Senhor da
igreja. Eles exercem o governo sobre a casa de Deus, em nome do Rei, e são
responsáveis unicamente perante Ele.
b. A relativa
autonomia da igreja local. O governo das igrejas Reformada e Presbiteriana
reconhece a autonomia da igreja local. Isto significa:
(1) Que toda igreja
local é uma igreja de Cristo completa, plenamente equipada com tudo que se
requer para o seu governo. Não há absolutamente necessidade de se lhe impor
nenhum governo de fora. E não só isso, mas tal imposição seria absolutamente
contrária à sua natureza.
(2) Que, embora
possa haver uma associação ou unificação apropriada de igrejas contíguas, não
se deve estabelecer nenhuma união que destrua a autonomia da igreja local. Daí,
é melhor não se falar das classes ou presbíteros e dos sínodos como superiores,
mas descrevê-los como assembléias maiores ou mais gerais. Eles não representam
um poder mais alto, mas exatamente o mesmo poder inerente ao consistório ou
conselho, conquanto o exerçam numa escala mais ampla. McGill fala deles como
tribunais superiores ou mais remotos.[31]
(3) Que a
autoridade e as prerrogativas das assembléias maiores não são limitadas, mas
têm sua limitação nos direitos das sessões, consistórios ou conselhos. Não lhes
é permitido assenhorear-se da igreja local ou de seus membros,
independentemente dos direitos constitucionais do consistório ou conselho;
tampouco se lhes permite imiscuir-se nos assuntos internos da igreja local, em
nenhuma circunstância. Quando as igrejas formam uma associação, os seus deveres
e direitos mútuos são circunscritos numa Ordem da Igreja ou numa Forma de
Governo ou numa Constituição da Igreja. Esse documento estipula os direitos e
deveres das assembléias maiores, mas também garante os direitos da igreja
local. A idéia de que uma classe (presbitério) ou um sínodo pode pura e
simplesmente impor tudo que quiser a uma igreja local é uma idéia
essencialmente católica romana.
(4) Que a autonomia
da igreja local tem suas limitações na relação existente entre ela e as igrejas
com as quais está associada, e nos interesses ou causas gerais das igrejas
associadas. A Ordem a Igreja ou Constituição é um documento solenemente
subscrito por todas as igrejas locais associadas, representadas por seus
respectivos consistórios, sessões ou conselhos (através dos respectivos
presbitérios, no caso do presbiterianismo). Isto, por um lado, protege os
direitos e interesses da igreja local, mas, por outro lado, protege também os
direitos e interesses coletivos das igrejas associadas. E nenhuma igreja tem,
isoladamente, o direito de desatender questões de acordo mútuo e de interesse
comum. O grupo local poderá até ser ocasionalmente chamado a negar-se a si
mesmo pelo bem maior da igreja em geral.
3. AS ASSEMBLÉIAS
MAIORES.
a. Base bíblica
das assembléias maiores. A Escritura não contém um mandamento explícito no
sentido de que as igrejas locais de uma região devam compor uma união orgânica.
Tampouco nos fornece algum exemplo de uma tal união. De fato, ela descreve as
igrejas locais como entidades individuais, sem qualquer vínculo externo de
união. Ao mesmo tempo, a natureza essencial da igreja, nos termos em que é
descrita na Escritura. Requer essa união. A igreja é descrita como um organismo
espiritual em que todas as partes constituintes se relacionam vitalmente umas
com as outras. Ela é o corpo espiritual de Jesus Cristo, do qual Ele é a
sublime Cabeça. E é simplesmente natural que esta unidade interna se expresse
de maneira visível e, até, quanto possível neste mundo imperfeito e pecaminoso,
busque expressão nalguma organização externa correspondente. A Bíblia fala da
igreja, não somente como um corpo espiritual, mas também como um corpo
tangível, como um templo do Espírito Santo, como um sacerdócio e como uma nação
santa. Cada uma destas expressões indica uma unidade visível. Os
congregacionais, as igrejas livres e os indenominacionalistas não enxergam este
importante fato. As divisões existentes na igreja visível na época atual não devem
levar-nos a perder de vista o fato de que há certas passagens da Escritura que
indicam com bastante clareza que, não somente a igreja invisível, mas também a
igreja visível é uma unidade. A palavra ekklesia é empregada no singular
como uma indicação da igreja visível num sentido mais amplo que o da igreja
puramente local, At 9.31 (conforme a redação atualmente aceita), 1 Co 12.28, e
provavelmente também 1 Co 10.32. Nas descrições da igreja em 1 Co 12.12-50 e em
Ef 4.4-16, o apóstolo também tem em mente a sua unidade visível. Além disso, há
motivos para pensarmos que, em Jerusalém e em Antioquia, a igreja consistia de
vários grupos separados, que, juntos, formavam uma espécie de unidade. E,
finalmente, Atos 15 dá-nos a conhecer o exemplo do concílio de Jerusalém. Este
concílio se compunha de apóstolos e presbíteros, e, portanto, não constitui um
adequado exemplo e padrão de uma classe (presbitério) ou sínodo no sentido
moderno dos termos. Ao mesmo tempo, é um exemplo de uma assembléia maior, e de
uma assembléia que falou com autoridade, e não apenas na capacidade de um órgão
consultivo.
b. O caráter
representativo das assembléias maiores. Em tese se pode dizer que as
assembléias maiores poderiam compor-se de todos os representantes de todas as
igrejas locais que se acham sob a sua jurisdição; mas, devido ao numero das
igrejas representadas, uma corporação como essa seria, em muitos casos,
incontrolável e ineficiente. Para reduzir o numero de representantes a
proporções razoáveis, o princípio de representatividade também é acionado com
relação às assembléias maiores. Não as igrejas locais, mas as classes ou
presbitérios enviam representantes aos sínodos (e às assembléias gerais). Isto
possibilita a contração gradual necessária para um sistema bem compacto. Os representantes
imediatos do povo, que compõem os consistórios ou sessões ou conselhos, são
representados, eles próprios, nas classes ou presbitérios; e estes, por sua
vez, são representados nos sínodos e nas assembléias gerais. Quanto mais geral
a assembléia, mais distante está do povo; contudo, nenhuma delas se acha tão
longe que não possa dar expressão à unidade da igreja, manter a boa ordem e
garantir a eficiência geral dos seus trabalhos.
c. As questões
que se acham sob a sua jurisdição. O caráter eclesiástico destas
assembléias sempre se deve ter em mente. É porque elas são assembléias da
igreja que as questões puramente científicas, sociais, industriais e políticas,
como tais, não estão sob a sua jurisdição. Só questões eclesiásticas pertencem
à sua esfera, como as questões de doutrina e moralidade, de governo e
disciplina da igreja, e de tudo quanto se relacione com a preservação da
unidade e da boa ordem na igreja de Jesus Cristo. Mais particularmente, elas
tratam de (1) matérias que, quanto á sua natureza, pertencem à esfera de uma
assembléia menor mas que, por uma razão ou outra, não podem ser resolvidas ali;
e (2) matérias que, quanto à sua natureza, pertencem à esfera de uma assembléia
maior, visto pertencerem às igrejas em geral, como as questões tocantes à
Confissão de Fé, à Ordem ou Constituição da Igreja, ou à liturgia da igreja.
d. O poder e
autoridade destas assembléias. As assembléias maiores não representam uma
classe de poder mais alto que o poder investido no consistório ou sessão ou
conselho. As igrejas reformadas (calvinistas) não reconhecem nenhuma classe
superior de poder eclesiástico além daquele que reside no consistório ou
conselho. Ao mesmo tempo, a sua autoridade é maior em grau e mais ampla em
extensão que a do consistório. O poder da igreja é representado em maior medida
nas assembléias maiores do que no consistório, precisamente como o poder
apostólico era representado em maior medida nos doze do que num só apóstolo.
Dez igrejas certamente possuem mais autoridade que uma; há um acúmulo de poder.
Além disso, a autoridade das assembléias maiores não se aplica só a uma igreja,
mas se estende a todas as igrejas associadas. Conseqüentemente, as decisões de
uma assembléia maior carregam grande peso, e jamais poderão ser postas de lado,
ao bel prazer de quem quer que seja. A asserção às vezes feita de que essas
decisões são apenas de caráter consultivo e, portanto, não precisam ser
cumpridas, é uma manifestação do pensamento dos adeptos da independência (das
igrejas livres). Estas decisões são imperativas, exceto nos casos em que se
declara explicitamente que são meramente consultivas. Elas são obrigatórias
para as igrejas como a fiel interpretação e aplicação da lei – da lei de
Cristo, o Rei da igreja. Só deixam de ser obrigatórias quando se mostram
contrárias à Palavra de Deus.
BIBLIOGRAFIA PARA
CONSULTA: Bavinck, Geref. Dogm. IV, p. 354-424; Kuyper, Dict. Dogm., De Ecclesia, p. 268-293; id., Tractaat
van de Reformantie der Kerken, p. 41-82; Vos, Geref. Dogm., V, p. 31-39,
49-70; Hodg, Church Polity, cf. Índice: Bannerman, The Church, p.
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Synodalverfassung seit der Reformation; Morris, Ecclesiology, p.
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Way; W. A. Visser’t Hooft e J. H. Oldham, The Church and its Function in
Society.
IV. O Poder da Igreja.
A. A Fonte do Poder da Igreja.
Jesus Cristo não
somente fundou a igreja, mas também a revestiu do necessário poder ou
autoridade. Ele é a Cabeça da igreja, não apenas no sentido orgânico, mas
também no sentido administrativo, isto é, Ele é não somente a Cabeça do corpo,
mas também o Rei da comunidade espiritual.*
É em Sua capacidade de Rei da igreja que Ele a revestiu de poder ou autoridade.
Ele mesmo falou da igreja como fundada tão solidamente sobre uma rocha que as
portas do inferno não prevaleceriam contra ela, Mt 16.18; e na mesma ocasião –
exatamente a primeira em que Ele fez menção da
igreja – também prometeu dota-la de poder, quando disse a Pedro: “Dar-te-ei as
chaves do reino dos céus: o que ligares na terra, terá sido ligado nos céus; e
o que desligares na terra, terá sido desligado nos céus” (Mt 16.19). É evidente
que as expressões “igreja” e “reino dos céus” são empregadas uma pela outra
aqui. As chaves são um emblema de poder (cf. Is 22.15-22), e com as chaves do
reino dos céus Pedro recebe poder para ligar e desligar, o que neste contexto,
parece significar, determinar o que é proibido e o que é permitido na esfera da
igreja.[32]
E a sentença que ele passar – neste caso, não as pessoas, mas as ações – será
sancionada no céu.** Pedro
recebe este poder como representante dos apóstolos, e estes constituem o núcleo
e o alicerce da igreja, em sua qualidade de mestres da igreja. A igreja de
todos os séculos é ligada pela palavra deles, Jo 17.20; 1 Jo 1.3. A passagem de
Jo 20.23 torna evidente que Cristo dotou não somente a Pedro, mas a todos os
apóstolos de poder e do direito de julgar, e não quanto às ações apenas, mas
também a pessoas: “Se de alguns perdoardes os pecados, são-lhes perdoados; se
lhos retiverdes, são retidos”. Cristo deu este poder, antes de tudo e no grau
supremo, aos apóstolos, mas também o estende, embora em menor grau, à igreja em geral. A igreja tem direito de excluir da
comunhão o pecador impenitente. Mas, pode fazê-lo somente porque Jesus Cristo
em pessoa habita na igreja e, pela instrumentalidade dos apóstolos, supriu a
igreja de um apropriado padrão de julgamento. Que Cristo deu poder à igreja em
geral, é muito bem evidenciado por várias passagens do Novo Testamento, quais
sejam: At 15.23-29; 16.4; 1 Co 5.7, 13; 6.2-4; 12.28; Ef 4.11-16. Os oficiais
da igreja recebem sua autoridade de Cristo, e não dos homens, mesmo que a
congregação sirva de instrumento para instale-los no ofício. Quer dizer que, de
um lado, eles não o recebem das mãos de nenhuma autoridade civil, que não tem
poder nenhum nas questões eclesiásticas, e, portanto, não pode outorgar nenhum
poder; mas, de outro lado, quer dizer que eles não o derivam do povo em geral
(da igreja), apesar de serem eles representantes do povo. Porteous observa acertadamente:
“O fato de que o presbítero é denominado representante do povo, mostra que ele
é o seu governante, por ele escolhido. O que é designado pelo título de
representante é o modo pelo qual o ofício é adquirido, não a fonte do seu
poder”.[33]
B. A Natureza Deste Poder.
1. PODER
ESPIRITUAL. Quando se afirma que o poder da igreja é espiritual, não se quer
dizer que é totalmente interno e invisível, desde que Cristo governa tanto o
corpo como a alma, Sua Palavra e os sacramentos se dirigem ao homem todo, e o ministério
do diaconato tem até referência especial às necessidades físicas. É um poder
espiritual porque é dado pelo Espírito de Deus, At 20.28, só pode ser exercido
em nome de Cristo e pelo poder do Espírito Santo, Jo 20.22, 23; 1 Co 5.4,
pertence exclusivamente aos crentes, 1 Co 5.12, e só pode ser exercido de
maneira moral e espiritual, 2 Co 10.4.[34]
O estado representa o governo de Deus sobre a condição externa e temporal do
homem, ao passo que a igreja representa o Seu governo sobre a condição interna
e espiritual do homem. O primeiro tem por objetivo assegurar aos seus súditos a
posse e o gozo dos seus direitos externos e civis, e muitas vezes é forçado a
exercer poder coercivo em contraposição à violência humana. O último é
edificado em oposição a um mau espírito e com o propósito de livrar os homens
da escravidão espiritual infundindo-lhes o conhecimento da verdade, cultivando
neles graças espirituais, e elevando-os a uma vida de obediência aos preceitos
divinos. Visto que o poder da igreja é exclusivamente espiritual, não recorre à
força. Em mais de uma ocasião Cristo declarou que a administração do Seu reino
na terra envolve um poder espiritual, e não um poder civil, Lc 12.13 e segtes.;
Mt 20.25-28; Jo 18.36, 37. A igreja de Roma não
vê este fato grandioso, quando insiste na posse do poder temporal e está
determinada a gerir toda a vida do povo que está sob o seu domínio.
2. PODER
MINISTERIAL. É copiosamente evidente na Escritura que o poder da igreja não é
um poder independente e soberano, Mt 20.25, 26; 23.8, 10; 2 Co 10.4,5; 1 Pe
5.3, mas, sim, uma diakonia leitourgia, um poder ministerial (de
serviço), At 4.29, 30; 20.24; Rm 1.1, derivado de Cristo e subordinado à Sua
autoridade soberana sobre a igreja, Mt 28.18. Deve ser exercido em harmonia com
a Palavra de Deus e sob a direção do Espírito Santo, por meio de ambos os quais
Cristo governa a Sua igreja, e em nome do próprio Cristo como o Rei da igreja,
Rm 10.14, 15; Ef 5.23; 1 Co 5.4. Todavia, é um poder muito real e abrangente,
que consiste na administração da Palavra e dos sacramentos, Mt 28.19, na
determinação do que é e do que não é permitido no reino de Deus, Mt 16.19, no
perdão e na retenção do pecado, Jo 20.23, e no exercício da disciplina na
igreja, Mt 16.18
C. Diferentes Espécies de Poder Eclesiástico.
Em conexão com os
três ofícios de Cristo, há também um poder tríplice na igreja, a saber, o poder
dogmático ou docente (potestas dogmática ou docendi), o poder de governo
ou de ordem (potestas gubernans ou ordinans), do qual o poder de
julgamento ou de disciplina (potestas iudicans ou disciplinae) é uma
subdivisão, e o poder ou ministério da misericórdia (potestas ou ministerium
misericordiae).
1. POTESTAS
DOGMATICA OU DOCENDI. A igreja tem uma tarefa divina, com relação à verdade. É
seu dever ser uma testemunha da verdade perante os de fora, e tanto uma
testemunha como um mestre para os de dentro. A igreja deve exercer este poder:
a. Na
preservação da Palavra de Deus. Pela dádiva da Sua Palavra à igreja, Deus
constituiu a igreja em guardiã do precioso depósito da verdade. Enquanto forças
hostis são colocadas contra ela e o poder do erro transparece em toda parte, a
igreja deve providenciar para que a verdade não pereça na terra, para que o
volume no qual ela está incorporada seja mantido puro e sem mutilações, a fim
de que o seu propósito não seja derrotado, e para que ela seja transmitida de
geração em geração. Ela tem a grande e
responsabilizante tarefa de manter e defender a verdade contra todas as forças
da incredulidade e do erro, 1 Tm 1.3, 4; 2 Tm 1.13; Tt 1.9-11. A igreja nem sempre se lembra deste dever
sagrado. Durante o último século, muitíssimos líderes da igreja até deram
boas-vindas aos ataques de uma crítica hostil à Bíblia, e se regozijaram com o
fato de que ela foi rebaixada ao nível de uma produção meramente humana, uma
mescla de verdade e erro. Eles demonstraram possuir pouco da determinação que
levou Lutero a bradar: “Das Wort Sollen Sie sthen lassen”. (“È preciso que a
Palavra esteja apegada a você”).
b. Ministração
da Palavra e dos sacramentos. O dever da igreja não é somente preservar a
Palavra de Deus, mas também pregá-la no mundo e na assembléia do povo de Deus,
para a conversão dos pecadores e a edificação dos santos. A igreja tem uma
tarefa evangelística ou missionária no mundo. O Rei, revestido de autoridade no
céu e na terra, deu-lhe a grande comissão: “Ide, portanto, fazei discípulos de
todas as nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho e Espírito Santo;
ensinando-os a guardar todas as cousas que vos tenho ordenado”. Pelo ministério
da igreja, o Filho está reunindo incessantemente, dentre toda a raça humana,
uma igreja escolhida para a vida eterna. A igreja empírica de qualquer época
particular deve estar ativamente empenhada no alargamento e expansão da igreja
mediante esforços missionários, deve servir de instrumento para reunir os
eleitos dentre todas as nações do mundo, juntando pedras vivas ao templo
espiritual que está em processo de construção, e, desta maneira, deve promover
a completação do número dos que finalmente constituirão a igreja ideal do
futuro, a noiva perfeita de Cristo, a nova Jerusalém de Apocalipse 21. Se a
igreja de Jesus for negligente na realização desta grande tarefa, provará que é
infiel ao seu Senhor. Essa obra deverá continuar e deverá completar-se antes do
glorioso retorno do Salvador, Mt 24.14. E o grande meio que está à disposição
da igreja para a realização da sua obra é, não a educação, a civilização, a
cultura humana ou reformas sociais, embora todas estas coisas possam ter
significação subsidiária, mas, sim, o Evangelho do Reino, que não é outro, a
despeito do que possam dizer os premilenistas, senão o Evangelho da livre graça
de Deus, da redenção pelo sangue do Cordeiro. Mas a igreja não deve
satisfazer-se em trazer pecadores a Cristo pela instrumentalidade do Evangelho;
também é preciso que ela se engaje na pregação da Palavra nas assembléias dos
que já vieram a Cristo. E, na realização desta tarefa, seu principal trabalho
não consiste em chamar pecadores a Cristo, embora o convite pra virem a Cristo
não deva faltar mesmo nas igrejas organizadas, mas em edificar os santos,
fortalecer sua fé, conduzi-los no caminho da santificação e, assim, solidificar
o templo do Senhor. Paulo tem isto em mente quando afirma que Cristo deu à
igreja os oficiais docentes “com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o
desempenho do seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo, até que todos
cheguemos a unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, à perfeita
varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo”, Ef 4.12, 13. A igreja não deve ficar satisfeita com
ensinar os primeiros princípios da fé, mas deve prosseguir, ascendendo a um
terreno mais elevado, para que os que são bebês em Cristo se tornem homens e
mulheres plenamente desenvolvidos em Cristo, Hb 5.11-6.3. Somente uma igreja
realmente forte e que tenha uma firme compreensão da verdade é que poderá, por
sua vez, tornar-se uma poderosa agência missionária e fazer extraordinárias
conquistas para o Senhor. Assim, a tarefa da igreja é amplamente compreensiva.
Ela deve apontar o caminho da salvação, deve advertir os ímpios da condenação
que lhes sobrevirá, deve animar os santos com as promessas de salvação, deve
fortalecer os fracos, encorajar os desanimados e consolar os tristes. E, para
que esta obra seja realizada no território todo e em todas as nações, ela deve
providenciar para que a Palavra de Deus seja traduzida para todas as línguas. O
ministério dos sacramentos deve, naturalmente, seguir ao lado do ministério da
Palavra. Aquele é simplesmente uma apresentação simbólica do Evangelho,
dirigida aos olhos, antes que aos ouvidos. O dever que a igreja tem de pregar a
Palavra é ensinado claramente em muitas passagens da Escritura, como Is 3.10,
11; 2 Co 5.20; 1 Tm 4.13; 2 Tm 2.15; 4.2; Tt 2.1-10. Em vista das claras
instruções do seu Rei, ela jamais deverá permitir que nenhum governo ditatorial
lhe dite o que deve pregar; tampouco deverá acomodar-se, no que se refere ao
conteúdo da sua mensagem, às exigências de uma ciência naturalista, ou às
solicitações de uma cultura que reflita o espírito do mundo. Os modernistas
fizeram justamente isso durante as décadas passadas, em seus esforços suicidas
para adaptar-se, em sua pregação, às exigências de uma alta crítica
racionalista, e de ciências como a biologia, a psicologia, a sociologia e a
economia, até que, por fim, perderam a mensagem do Rei completamente. Muitos
deles agora estão chegando à descoberta de que a mensagem recomendada na obra Rethinking
Missions (Repensando as Missões), e na de Vernon White, A New Theology
for Missions (Nova Teologia para Missões), é completamente diferente da
mensagem original e contém pouco daquilo que é peculiar ao púlpito cristão; e
de que, como as coisas estão agora em seus círculos, a igreja não tem mensagem
propriamente sua. Modernistas há que fazem tentativas frenéticas para descobrir
para si alguma mensagem que eles possam levar às igrejas, se bem que deviam
procurar recuperar a mensagem cristã original e posicionar-se humildemente aos
pés de Jesus.
c. Na
estruturação de símbolos e confissões. Toda igreja deve lutar pelo senso de
identidade própria na confissão da verdade. Para realizar isso, não somente
terá que refletir profundamente na verdade, mas terá também que formular uma
expressão daquilo em que crê. Fazendo-o, gerará em seus membros uma clara
concepção da sua fé, e transmitirá aos de fora um definido entendimento de suas
doutrinas. A necessidade de faze-lo foi grandemente incrementada pelas
históricas perversões da verdade. O surgimento de heresias invariavelmente
reclamava a elaboração de símbolos e confissões, afirmações claramente
formuladas da fé esposada pela igreja. Mesmo os apóstolos às vezes achavam
necessário reafirmar com maior precisão certas verdades, devido a erros que se
haviam imiscuído na igreja. João reafirmou a verdade central da manifestação de
Cristo no mundo, em vista de um gnosticismo incipiente (cf. seu evangelho e sua
primeira carta); Paulo reafirmou a doutrina da ressurreição, que alguns negavam
(1 Co 15; 1 Tm 1.20; 2 Tm 2.17, 18), e também a da segunda vinda de Cristo, que
fora mal compreendida (2 Ts 2); e o concílio de Jerusalém achou necessário
reafirmar a doutrina da liberdade cristã (At 15). Naturalmente, a Bíblia não
contém nenhum exemplo de credo. Os credos não são dados por revelação, mas são
fruto da reflexão da igreja sobre a verdade revelada. Em nossos dias, muitos
são avessos a símbolos e confissões, e entoam glorias a uma igreja sem credo.
Mas as objeções levantadas contra os credos não são insuperáveis absolutamente.os
credos não são, como alguns insinuam, considerados como iguais em autoridade à
Bíblia, e muito menos como superiores a ela. E nada acrescentam à Escritura,
quer por afirmações expressas, quer por implicação. Não militam contra a
liberdade de consciência, nem retardam o progresso dos estudos teológicos
científicos. Tampouco podem ser considerados como causa de divisões da igreja,
embora a possam expressar. As divisões vieram primeiro, e , então deram
surgimento aos diversos credos. De fato, eles servem, em grande medida, para
promover a unidade da igreja visível. Além disso, se uma igreja não quer estar
caladas, é obrigada a desenvolver um credo, escrito ou não. Isso tudo não
significa, porém, que não possa haver mau uso de um credo.
d. No cultivo do
estudo da teologia. A igreja não pode descansar sobre os seus louros e
dar-se por satisfeita com o conhecimento que alcançou da verdade divina e que
formulou em suas confissões. Ela deve cavar cada vez mais fundo na mina da
Escritura, a fim de trazer à luz os seus tesouros ocultos. Pelo estudo
científico, ela deve procurar um conhecimento cada vez mais profundo uma
compreensão cada vez maior das palavras de vida. Ela deve isto à própria
verdade, como revelação de Deus que é, e também o deve à necessidade de
preparação dos seus futuros ministros. A igreja tem a obrigação de
subministrar, ou ao menos supervisionar, o treinamento das sucessivas gerações
de seus mestres e pastores. Isto parece estar implícito nas palavras de Paulo a
Timóteo: “E o que de minha parte ouviste, através de muitas testemunhas, isso
mesmo transmite a homens fiéis e também idôneos para instruir a outros”, 2 Tm
2.2.
2. POTESTAS
GUBERNANS. Esta se divide em potestas ordinans e potestas iudicans.
a. Potestas
ordinans. “Deus não é de confusão; e, sim, de paz”, 1 Co 14.33. daí, Ele
deseja que em Sua igreja “tudo ... seja feito com decência e ordem”, versículo
40. isto fica evidente pelo fato de que Ele fez provisão para o bom andamento
das coisas da igreja. A autoridade normativa que Ele deu à igreja inclui poder.
(1) De impor as
leis de Cristo. Quer dizer que a igreja tem o direito de levar a efeito as
leis que Cristo promulgou para ela. Há neste ponto uma importante diferença
entre a Igreja Católica Romana e as igrejas protestantes. Aquela virtualmente
reivindica a autoridade de decretar leis que obrigam a consciência e
cuja transgressão leva consigo a mesma pena ligada a qualquer infração da lei
divina. Estas, porém,repudiam qualquer autoridade deste tipo, mas defendem o
direito de impor a lei de Cristo, o Rei da igreja. E mesmo assim, elas não se
arrogam nenhum outro poder que o poder ministerial ou declarativo, consideram a
lei como obrigatória somente porque ela se apóia na autoridade de Cristo, e não
aplica outras censuras além das que Ele sancionou. Além disso, elas acham que a
compulsão entraria em conflito com a natureza do poder que lhes foi dado e
jamais poderia resultar num real benefício espiritual. Todos os membros da
igreja possuem este poder, em certa medida, Rm 15.14; Cl 3.16; 1 Ts 5.11, mas
os oficiais são revestidos dele em proporção especial, Jo 21.15-17; At 20.28; 1
Pe 5.2. O caráter ministerial deste poder é exposto em 2 Co 1.24; 1 Pe 5.2,3.
(2) De redigir
cânones ou ordens da igreja. Inúmeras ocasiões surgem em que a igreja é
incitada a elaborar decretos e regulamentos, muitas vezes chamados cânones ou
ordens da igreja. Tais decretos não devem ser considerados novas leis, mas
apenas regulamentos para a adequada aplicação da lei. São necessários para
darem à política externa da igreja uma forma definida, para estipularem os
termos em que se permite que estas ou aquelas pessoas exerçam ofício na igreja,
para regulamentarem o culto e para determinarem a forma apropriada de
disciplina a exercer-se, e assim por diante. A Escritura estabelece os
princípios gerais do culto de Deus, Jo 4.23; 1 Co 11.17-33; 14.40; 16.2; Cl
3.16 (?); 1 Tm 3.1-13; mas, na regulamentação dos pormenores do serviço divino,
permite-se grande latitude às igrejas. Elas podem adaptar-se às circunstâncias,
sempre tendo em mente, porém, que devem cultuar publicamente a Deus de maneira
mais bem ajustada ao propósito de edificação. Em nenhuma situação os
regulamentos da igreja poderão contrariar as leis de Cristo.
b. Potestas
iudicans. A potestas iudicans é o poder exercido para proteger a
santidade da igreja, admitindo os aprovados após exame, e excluindo os que se
desviam da verdade ou levam vidas desonradas. Este poder é exercido
especialmente em questões de disciplina.
(1) Ensinos
escriturísticos a respeito da disciplina. Em Israel, os pecados
involuntários podiam ser expiados por um sacrifício, mas os pecados cometidos
“com mão alta” (voluntários ou intencionais) eram punidos com o extermínio. O cherem
(a expulsão, ou aquilo que é amaldiçoado) não era somente uma punição
eclesiástica; também era uma punição civil. Os incircuncisos, os leprosos e os
impuros não tinham permissão para entrar no santuário, Lv 5.6; Ez 44.9. Foi só
depois que Israel perdeu sua independência nacional e o seu caráter de
assembléia religiosa se tornou mais proeminente, que a expulsão, que consistia
na exclusão da assembléia, passou a ser uma medida de disciplina eclesiástica,
Ed 10.8; Lc 6.22; Jo 9.22; 12. 42; 16.2. Jesus instituiu a disciplina na igreja
quando deu aos apóstolos e, em conexão com a palavra destes, também à igreja em
geral o poder de ligar e desligar, de declarar o que é proibido e o que é
permitido, e de perdoar e reter pecados declarativamente, Mt 16.19; 18.18; Jo
20.23. E é somente porque Cristo deu este poder à igreja que ela pode
exercê-lo. Várias passagens do Novo Testamento se referem ao exercício deste
poder, 1 Co 5.2, 5, 7, 13; 2 Co 2.5-7; 2 Ts 3.14, 15; 1 Tm 1.20; Tt 3.10.
Passagens como 1 Co 5.5 e 1 Tm 1.20 não se referem à disciplina normal,mas a
uma medida só permitida aos apóstolos e que consistia em entregar o pecados a
Satanás para punição física temporária, com o fim de lhe salvar a alma.
(2) O propósito
duplo da disciplina. O propósito da disciplina da igreja é duplo. Em
primeiro lugar, ela procura levar a efeito a lei de Cristo concernente à
admissão e exclusão de membros e em segundo lugar, tem por objetivo promover a
edificação espiritual dos membros da igreja assegurando a sua obediência às
leis de Cristo. Estes dois objetivos são subservientes a um fim superior, a
saber, a manutenção da santidade da igreja de Jesus Cristo. Com referência a
,membros enfermos da igreja, a disciplina é antes de tudo medicinal, no sentido
de que procura obter a cura, mas pode tornar-se cirúrgica, quando o bem-estar
da igreja exige a amputação de um membro enfermo. Quando um processo de
disciplina começa, é impossível dizer se será efetuada a cura, ou se o membro
enfermo finalmente precisará ser removido. Provavelmente a igreja conseguirá
levar o pecador ao arrependimento – e, naturalmente, este é o fim mais
desejável; mas também é possível que ela tenha que recorrer à medida extrema de
excluí-lo da comunhão. Em todos os casos de disciplina, a igreja terá que
figurar com as duas possibilidades. Mesmo na aplicação da medida extrema, ela
deve ter em mente a salvação do pecador, 1 Co 5.5. Ao mesmo tempo, ela sempre
deve lembrar-se de que a consideração primordial é a manutenção da santidade da
igreja.
(3) O exercício
da disciplina pelos oficiais. Embora os membros comuns da igreja sejam
freqüentemente chamados a tomar parte na aplicação da disciplina, geralmente
ela é aplicada pelos oficiais da igreja, e só pode ser aplicada por
eles quando a disciplina se torna censura. Há duas diferentes maneiras
pelas quais pode vir a ser dever do consistório ou conselho lidar com questões
de disciplina. (a) Pecados privados podem tornar-se causa de disciplina no
sentido mais técnico da palavra, da maneira indicada em Mt 18.15-17. Se alguém
pecar contra um irmão, este deverá admoestar o que pecou; se isto não obtiver o
efeito desejado, ele deverá admoesta-lo de novo, na presença de uma ou duas
testemunhas; e se mesmo isto falhar, deverá notificar a igreja, e passará a ser
dever dos oficiais tratar da questão. Contudo, devemos lembrar-nos de que este
método é prescrito somente para pecados privados. A ofensa causada por pecados
públicos não poderá ser removida privadamente, mas unicamente mediante uma
transação pública. (b) Pecados públicos sujeitam imediatamente o pecador a ação
disciplinar do consistório ou conselho, sem a formalidade de quaisquer
admoestações privadas prévias, mesmo que não haja nenhuma acusação formal. Com
pecados públicos se quer dizer, não meramente pecados cometidos em público, mas
pecados que causam ofensa pública e muito geral.. o consistório nem deve
esperar que alguém chame a sua atenção para tais pecados, mas deve tomar a
iniciativa. Não foi nenhuma honra para os coríntios que Paulo tenha tido que
lhes chamar a atenção para o escândalo que grassava entre eles, antes deles começarem
a agir, 1 Co 5.1 e segts.; tampouco houve alguma honra para as igrejas de
Pérgamo e Tiatira, em não repreenderem e não excluírem do seu meio os mestres
heréticos, Ap 2.14, 15, 20. No caso dos pecados públicos, o consistório ou
conselho não tem direito de esperar até alguém lhe trazer denúncias formais;
tampouco tem ele o direito de exigir de alguém que finalmente se sentiu
constrangido a lhe chamar a atenção para esses pecados, que admoeste
privadamente o pecador primeiro. A questão dos pecados públicos não pode ser
resolvida privadamente.
A ação disciplinar
do consistório passa por três etapas: (a) A excommunicatio minor
(excomunhão menor), que impede o pecador de participar da Ceia do Senhor. Não é
um ato público, e é acompanhado de repetidas admoestações feitas pelo
consistório, com o fim de levar o pecador ao arrependimento. (b) Se a medida
anterior não der resultado, seguir-se-á de três avisos e admoestações públicas.
Na primeira destas admoestações, o pecado é mencionado, mas o nome do pecador
não o é. Na segunda, o nome é dado a conhecer, de acordo com o parecer da
classe (equivalente ao presbitério), parecer que deve ser obtido primeiramente.
E na terceira, é anunciada a iminente excomunhão final, para que se possa obter
o consentimento da congregação. Naturalmente, durante esse tempo todo, o
consistório continua fazendo as admoestações. (c) Finalmente, segue-se a excommunicatio
major (excomunhão maior), pela qual o transgressor é eliminado da comunhão
da igreja, Mt 18.17; 1 Co 5.13; Tt 3.10,11. Sempre é possível restaurar o
pecador, se ele mostrar o devido arrependimento e confessar os seus pecados, 2
Co 2.5-10.*
(4) Necessidade
de disciplina apropriada. A necessidade de disciplina apropriada é
salientada na Escritura, Mt 18.15-18; Rm 16.17; 1 Co 5.2, 9-13; 2 Co 2.5-10; 2
Ts 3.6, 14, 15; Tt 3.10, 11. A igreja de Éfeso
foi elogiada porque não tolerou os maus, Ap 2.2, e as de Pérgamo e Tiatira
foram reprovadas por terem abrigado mestres heréticos e abominações pagãs. Ap
2. 14, 20, 24. De modo geral, as igrejas reformadas (calvinistas) têm-se
distinguido no exercício da disciplina da igreja. Elas davam forte ênfase ao
fato de que a igreja de Cristo deve ter governo e disciplina independentes. As
igrejas luteranas não davam ênfase a isto. Elas eram erastianas, quanto ao
governo de igreja, e se satisfaziam em deixar o exercício da disciplina da
igreja, no sentido estrito da palavra, nas mãos do governo do país. A igreja só
retinha o direito de exercer disciplina por meio do ministério da Palavra, isto
é, mediante admoestações e exortações dirigidas à igreja em geral. Isto era confiado ao
pastor e não incluía o direito de excluir ninguém da comunhão da igreja.
Presentemente, há nas igrejas existentes ao nosso redor, uma notória tendência
de relaxamento na disciplina, de uma ênfase unilateral à reforma do pecador por
meio do ministério da Palavra e – nalguns casos – mediante contatos pessoais
com o pecador, e de extirpar medidas tais como a exclusão de alguém da comunhão
da igreja. Existe uma tendência bem evidente de ressaltar o fato de que a
igreja é uma grande agência missionária e de esquecer que, acima de tudo, ela é
a assembléia dos santos, na qual não podem ser tolerados os que vivem em pecado. Dizem que os pecadores
devem ser agregados à igreja, e não excluídos dela. Mas é preciso lembrar que
eles devem ser agregados à igreja como santos, e que não terão um lugar
legítimo na igreja enquanto não confessarem seu pecado e não lutarem pela
santidade em seu viver.
3. POTESTAS
MINISTERIUM MISERICORDIAE.
a. O dom
carismático de cura. Quando Cristo enviou em missão os Seus doze apóstolos
e os setenta discípulos, não somente os instruiu para pregarem, mas também lhes
deu poder para expulsar demônios e curar toda sorte de enfermidade, Mt 10.1, 8;
Mc 3.15; Lc 9.1, 2; 10.9, 17. Entre os cristãos primitivos havia alguns que
tinham o dom de cura e que podiam fazer milagres, 1 Co 12.9, 10, 28, 30; Mc
16.17, 18. Todavia, esta condição extraordinária logo cedeu lugar às condições
comuns, nas quais a igreja efetua o seu trabalho pelos meios ordinários. Não há
base escriturística para a idéia de que o dom carismático de cura fora dado com
a intenção de continuar na igreja de todos os séculos. Evidentemente, os
milagres e os sinais miraculosos registrados na Escritura foram dados como
marcas ou credenciais da revelação divina, eles próprios faziam parte desta
revelação, e serviam para atestar e confirmar a mensagem dos primeiros
pregadores do Evangelho. Nestas qualidades, eles cessaram quando terminou o
período da revelação especial. É verdade que a igreja de Roma e diversas seitas
se arrogam o poder de efetuar cura milagrosa, mas essa pretensão não é
demonstrada por evidências comprobatórias. Há em circulação muitas estórias
maravilhosas de curas milagrosas, mas, antes de se lhes dar crédito, é preciso
provar: (1) que não se relacionam com casos de doença imaginária, mas, sim, com
casos de doença real ou de defeitos físicos; (2) que não se referem a
pseudocuras, ou a curas imaginárias, mas, sim, a curas reais; e (3) que as curas
são de fato produzidas de maneira sobrenatural, e não são apenas resultado do
uso de meios naturais, quer materiais quer mentais.[35]*
b. O ministério
ordinário de beneficência da igreja. Claramente o Senhor tencionava que a
igreja cuidasse dos pobres. Ele fez alusão a este dever quando disse aos Seus
discípulos: “Porque os pobres sempre os tendes convosco”, Mt 26.11; Mc 14.7.
Por meio de uma comunhão de bens, a Igreja Primitiva providenciou para que a
ninguém faltasse nada do necessário para a vida, At 4.34. não é impossível que
os neoteroi (moços) de At 5.6, 10 fossem os precursores dos diáconos
posteriores. E quando as viúvas dos gregos estavam sendo negligenciadas na
ministração diária, os apóstolos providenciaram para que sete homens bem
qualificados fossem encarregados daquele serviço necessário, At 6.1-6. Eles
deviam “servir às mesas”, o que parece significar, neste contexto,
superintender o atendimento às mesas dos pobres, ou providenciar uma divisão
eqüitativa das provisões que eram postas nas mesas. Diáconos e diaconisas são
mencionados repetidamente na Bíblia, Rm 16.1; Fp 1.1; 1 Tm 3.8-12. Além disso,
o Novo Testamento contém muitas passagens que instam sobre a necessidade de se
fazerem ofertas ou coletas para os pobres, At 20.35; 1 Co 16.1, 2; 2 Co 9.1, 6,
7, 12-14; Gl 2.10; 6.10; Ef 4.28; 1 Tm 5.10, 16; Tg 1.27; 2.15, 16; 1 Jo 3.17.
Não pode haver dúvida quanto ao dever da igreja nesta questão. E os diáconos
são os oficiais incumbidos da responsabilizante e delicada tarefa de realizar o
trabalho da beneficência cristã com referência a todos os necessitados da
igreja. Cabe-lhes planejar métodos e meios para coletar os necessários fundos,
devem responsabilizar-se pelo dinheiro coletado, e devem providenciar a sua
prudente distribuição. Contudo, o seu trabalho não se limita a este
oferecimento de auxílio material. Eles devem também instruir e consolar os
necessitados. Em todo o seu trabalho, eles devem considerar seu dever aplicar
os princípios espirituais quando estão dando cumprimento ao seu dever. É de
temer que, lamentavelmente, esta função esteja sendo negligenciada em muitas
igrejas hoje. Há a tendência de partir da suposição de que se pode deixar que o
estado supra as necessidades até dos pobres da igreja. Mas, ao agir com
base nesse pressuposto, a igreja negligencia um dever agrado, empobrece a sua
vida espiritual, priva-se da alegria que se experimenta ao atender às
necessidades dos que padecem carência, e priva os que estão passando por
dificuldades, os que se vêem em condições deprimentes, e os que muitas vezes
caem no mais completo desânimo, da consolação, da alegria e do fulgor das
ministrações do amor cristão, em regra inteiramente alheias às obras de
caridade administradas pelo estado.
BIBLIOGRFIA PARA
CONSULTA: Bavinck, Geref. Dogm. IV, p. 425-482; Kuyper, Dict. Dogm., de Ecclesia, p.
268-293; id., Tractaat van de Reformatic der Kerken, p. 41-69;
Bannerman, The Church I, p. 187-480; II, p. 186-200; Hodge, Church
Polity, cf. Índice; Morris, Ecclesiology, p. 143-151; Wilson, Free
Church Principles; McPherson, The Doctrine of the Church in Scottish
Theology, p. 129-224; Gillespie, Aarron’s Rod Blossoming; ibid., On
Ceremonies; Bouwman, De Kerkelijke Tucht; Jansen, De Kerkelijke
Tucht; Biesterveld, Van Lonkhuizen, e Rudolph, Het Diaconaat;
Bouwman, Het Ambt der Diakenen; Litton, Introd. To Dogm. Theol.,
p. 394-419; Schmid, Doct. Theol.of the Ev. Luth. Chruch, p. 607-621;
Wilmers, Handbook of the Chr. Rel., p. 77-101; Cunningham, Discussions
of Church Principles; ibid., Historical Theology II, p. 514-587;
McPherson, Preesbyterianism.
* Os Estados
Unidos da América. Nota do
tradutor.
[1] Scottish Theology and
Theologians, p. 95; cf. também McPherson, The Doctrine of the Church in
Scottish, p. 1 e seguintes.
[2] Preface
da obra de Hodge sobre Church Polity
*
Union, de Virginia. Registro aqui o seguinte pronunciamento de R. L.
Dabney: “A doutrina dos sacramentos depende rigorosamente da doutrina da
igreja, e é tratada por muitas autoridades como estritamente conseqüente dela
(como o faz Turretino). É bom notar também que a doutrina da igreja ocupa lugar
importante na teologia da redenção, podendo ser tratada nesta categoria, e
também como fonte de normas práticas para a igreja. Mas como essa doutrina é
tratada proficientemente noutro departamento deste Seminário, assumirei seus
princípios fundamentais e os empregarei como fundamentos para o estudo dos
sacramentos, sem invadir aquela esfera de pesquisa”. R. L. Dabney. Syllabus and Notes of the
Course of Systematic and Polemic Theology, dado no Union Theological Seminary, Virginia. Nota do tradutor.
[3] Lect. On Theol., p. 726.
[4] Dogm. Theol. I, p. 10.
[5] P. 590 e seguintes.
[6] The Christian Ekklesia, p. 7.
[7] Manual of the History of
Dogmas II, p. 214.
[8] The Creed Explained, p. 259.
[9] Handbook of the Christian Religion, p. 103.
[10] Cap. V,
principalmente nos parágrafos XLVI-XLVIII.
[11] P. 59
[12] Greek Orthodox Thought, p. 241, 242.
[13] Art. XXVII.
[14] Cap. XVII.
[15] Cap. XXV.
[16] Chr. Dogmatic, p.417.
[17] Cf. Kuyper, Enc. III, p.
204; Bavinck, Geref. Dogm. IV, p. 331; Ten Hoor, Afscheiding of
Goleantie, p. 88, 89; Doekes, De Moeder der Geloovigen, p. 10,
11; Steen, de Kerk, p. 51 e
segtes.
[18] Institutas
IV, 1, 7.
[19] Artigos
XXVII-XXIX.
[20] Artigo XXVII.
[21] Artigo XXIX.
[22] Scottish Theology and
Theologians, p. 97, 97.
[23] The Church and the
Churches, p. 28.
[24] The Creed Explained, p. 285.
[25] Catechism of the Catholic
Religion, p. 140.
* Ao que parece, Berkhof tem em mente o
mundo ocidental, uma vez que omite a referência às igrejas ortodoxas,
resultantes de uma cisão do romanismo anterior à Reforma protestante do século
XVI. Nota do tradutor.
[26]
Artigo XXIX.
[27] Cap. XXV, seções 2, 4, 5.
[28] Scottish Theology and
Theologians, p. 130.
* É bom notar que Cristo é o
Cabeça (Chefe) de todas as coisas (Ef 1.22; Cl 2.10), mas, com relação à igreja,
além de Chefe ou o Cabeça, Ele é a Cabeça (Ef. 5.23, 30; Cl 1.18;
2.19). A distinção é importante porque, com relação à igreja, o vínculo de
união é orgânico: a igreja é o corpo; Cristo é sua Cabeça – que não só comanda
o corpo, mas também lhe comunica vida. Esta figura tem que ver com a bela e
profunda doutrina da união vital de Cristo com o crente. Há passagens em que a
tradução de kefale deveria ser “a cabeça”, e não “o cabeça”, como nelas
está. Cf., por exemplo, Ef 4.15 e 5.23, Almeida, Ed. Ver. e Atual. Nota do tradutor.
[29] Cf. Wilmers, Handbook of the
Christian Religion, p. 134.
* Na igreja
Presbiteriana do Brasil, a Assembléia Geral toma o nome de Supremo Concílio.
Nota do tradutor.
** Há
divergências sobre qual dos Tiagos seria este. Daí a interrogativa de Berkhof.
Cf., e.g., o comentário de Calvino, in loco. Nota do tradutor.
[30] Church
Polity, p. 349
* Na Igreja presbiteriana do Brasil a imposição das mãos
faz parte do ato litúrgico constitucional. Vide “Princípios de Liturgia”,
Artigos 27 e 33, com seu Parágrafo único. Nota do tradutor.
** A
Constituição da Igreja Presbiteriana do Brasil diz: “Art. 89 – A
representação do Presbitério no Sínodo será constituída de três ministros e
três presbíteros até dois mil membros; e mais um ministro e um presbítero para
cada grupo de dois mil membros. Art. 90 – A representação do Presbitério ao
Supremo Concílio será constituída do dois ministros e um presbítero, até dois
mil membros e mais um ministro e um presbítero para cada grupo de dois mil
membros”. E o Art. 95 declara que “O Supremo Concílio é a assembléia de
deputados eleitos pelos Presbitérios e o órgão de unidade de toda a Igreja
Presbiteriana do Brasil...”. Nota do tradutor.
[31] Church
Government, p. 457.
* Em
português é perfeitamente válido dizer que Cristo é a Cabeça da igreja (como órgão
vitalizador do organismo), e o Cabeça da igreja (seu Chefe soberano). Nota do tradutor.
[32] Cf. Vos, The Kingdom of God and the Church, p. 147; Grosheide, Comm. On
Matthew, in loco.
** Assim,
segundo a versão utilizada pelo Autor, que diz, na passagem acima transcrita:
“será ligado ... será desligado no céu”. “Terá sido sancionada”, segundo a
Versão de Almeida, Ver. e Atualizada, utilizada em minha tradução. Nota do tradutor.
[33] The Government of the Kingdom of God, p. 322.
[34]
Bavinck, Dogm. IV, p. 452.
* A Igreja Presbiteriana do Brasil tem o
seu Código de Disciplina, que regulamenta pormenorizadamente os vários
processos disciplinares. O Código de Disciplina é um dos três documentos
constitucionais dessa igreja (os outros dois são: a Constituição e os
Princípios de Liturgia). Isto no que se refere aos seus símbolos de ordem.
Nota do tradutor.
[35]
Cf. especialmente Warfield, Counterfeit Miracles.
* Acrescente-se a necessidade de
discernir os espíritos (1 Co 12.10; 1 Jo 4.1, porque os poderes das trevas
também operam curas milagrosas e realizam prodígios sobrenaturais (Mt 7.22, 23;
24.24, 25). Nota do tradutor.
ATIVIDADE
I. Nomes Bíblicos da Igreja e a Doutrina da Igreja na História.
1. A história da igreja começa no dia de
Pentecostes, ou antes?
2. Se começa antes,
como a igreja anterior àquela difere da que se lhe segue?
3. A qual igreja Jesus se refere em Mt 18.17?
4. Agostinho
identificou a igreja como organismo espiritual ou como instituição externa, com
o reino de Deus?
5. Como explicar a
ênfase católica romana à igreja como organização externa?
6. Por que os
Reformadores não insistiram na total liberdade da igreja quanto ao estado?
7. Como diferiam
Lutero e Calvino com respeito a isto?
8. Que
controvérsias acerca da igreja surgiram na Escócia?
9. Que explica as
diferentes concepções da igreja na Inglaterra e na Escócia?
10. Como foi que o
racionalismo afetou a doutrina da igreja?
11. Que grandes
perigos estão ameaçando a igreja na época atual?
II. Natureza da Igreja
1. Qual é o sentido
da palavra ekklesia em Mt 16.18 e 18.17?
2. Quando e como o
termo Kyriake entrou em uso significando igreja?
3. Como as palavras
holandesas “kerk” e “gemeente” diferem, e como se relacionam com o termo grego?
4. Há passagens na
Escritura nas quais indubitavelmente a palavra ekklesia é empregada para
denotar como uma unidade o corpo completo dos que, em todo o mundo, professam
exteriormente a Cristo?
5. A palavra ekklesia é empregada alguma
vez como designativo de um grupo de igrejas sob um governo comum, como se dá
com o que chamamos denominação?
6. A visibilidade da igreja consiste meramente
na visibilidade dos seus membros?
7. Se não, em que
se torna ela visível?
8. A igreja visível mantém alguma outra relação
com Cristo, além de uma simples relação externa, e é beneficiada com outras
promessas e privilégios, além dos privilégios e promessas meramente exteriores?
9. A essência da igreja visível difere da
essência da igreja invisível?
10. Que objeções
foram levantadas contra a distinção entre a igreja como instituição e a igreja
como organismo?
11. Qual a
diferença fundamental entre a concepção católica romana e a concepção reformada
(calvinista) da igreja?
III. O Governo da Igreja
1. Qual a diferença
entre o sentido neotestamentário da palavra episkopos e sua conotação
posterior?
2. Por que os
ofícios regulares são necessários na igreja?
3. A Escritura apóia a idéia de que o povo deve
ter alguma participação do governo da igreja?
4. Qual a principal
característica do episcopado?
5. Qual a distinção
católica romana entre a hierarquia de ordem e a hierarquia de jurisdição?
6. Como se
originaram os sistemas territorial e colegial, e como diferem?
7. Que sistema os
arminianos adotaram, e como isto afetou a posição deles?
8. Qual a forma
atual do governo eclesiástico da igreja Luterana?
9. Como é que a
idéia de que Cristo é a Cabeça da igreja somente num sentido orgânico afeta os
ofícios e a autoridade da igreja?
10. Que importante
suporte prático tem a Chefia de Cristo (incluindo a Sua realeza) na vida, na
posição e no governo da igreja?
11. alguma igreja
pode ser considerada autônoma no sentido absoluto da palavra?
12. Como as
assembléias maiores reformadas e presbiterianas diferem das convenções ou
conferencias e concílios gerais congregacionais?
IV. O Poder da
Igreja
1. Como diferem as
concepções reformada (calvinista) e luterana de Cristo como Cabeça da Igreja?
2. O Velho
Testamento contém alguma indicação de que Cristo é o Rei da igreja?
3. Quais sistemas
de governo eclesiástico negam ou desacreditam a chefia ou realeza de Cristo?
4. Como a chefia de
Cristo afeta a relação da igreja com o estado, a liberdade religiosa e a
liberdade de consciência?
5. A Doutrina de que o poder da igreja é
exclusivamente espiritual é compatível com o romanismo e com o erastianismo?
6. Como o poder da
igreja é superestimado pelos homens da Alta Igreja e subestimado pelos da Baixa
Igreja de vários tipos?
7. Como os
independentes** vêem o poder dos
oficiais?
8. De que modo é
limitado o poder da igreja?
9. Qual o fim
colimado no exercício do poder da igreja?
10. Que se pretende
da igreja em Mt. 18.17?
11. A chave da disciplina proíbe somente a
participação nos privilégios externos da igreja , ou também num interesse
espiritual, em Cristo?
12. Por quem e como
a disciplina é exercida nas igrejas Católica Romana, Anglicana, Metodista e
Congregacional?
13. A igreja pode descartar-se da disciplina sem
risco?
** Isto é, as
igrejas livres, não sujeitas às igrejas oficiais ou estabelecidas,
principalmente da Inglaterra e da Escócia. Nota do tradutor.
AVALIAÇÃO
1. A história da igreja começa no dia de
Pentecostes, ou antes?
2. Se começa antes,
como a igreja anterior àquela difere da que se lhe segue?
3. Qual é o sentido
da palavra ekklesia em Mt 16.18 e 18.17?
4. Quando e como o
termo Kyriake entrou em uso significando igreja?
5. A essência da igreja visível difere da
essência da igreja invisível?
6. Por que os
ofícios regulares são necessários na igreja?
7. Qual a principal
característica do episcopado?
8. alguma igreja
pode ser considerada autônoma no sentido absoluto da palavra?
9. O Velho
Testamento contém alguma indicação de que Cristo é o Rei da igreja?
10. Que se pretende
da igreja em Mt. 18.17?